Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 228

Pontuamos novamente que tal processo tem sua materialidade na/pela linguagem,
já que o arquivo dá-se a materializar pela im-pressão do verbo, impressão que é um
termo registrado na escrita freudiana. Apesar de Freud não conceituar arquivo enquanto
tal, ele descreve as contingências subjetivas de nossa percepção com vistas ao por-vir.
Derrida articula o arquivo também no registro do que falta, quando diz que o arquivo é
hipominésico: “(...) Pois o arquivo, se esta palavra ou esta figura se estabiliza em
alguma significação, não será jamais a memória nem a anamnese em sua experiência
espontânea, viva e interior. Bem ao contrário: o arquivo tem lugar em lugar da falta
originária e estrutural da chamada memória” (DERRIDA, 2001, p.22).
A qualidade da impressão, a quantidade de excitação causada pela impressão e o
espaço-tempo em que ocorrerão as impressões irão se relacionar ao prazer e desprazer, e
aos modos como o sujeito irá dizê-lo e registrá-lo na/pela linguagem. Talvez por isso, a
impressão é descrita por Derrida (2001, p.41) como uma inscrição “que deixa uma
marca na superfície ou na espessura de um suporte”. Embora haja, quase sempre, a
partir da impressão, o desejo de permanência e de eternização de um passado, não há
como pensar numa fixidez do arquivo, já que existe um processo de apagamento (quase
sempre) necessário para que ele seja renovado. Descrever o arquivo em sua totalidade,
em sua completude, nos é impossível, pois suas probabilidades de descrição e de
consignação envolvem também, e inevitavelmente, o controle e o encontro com o im-
possível da língua.
No que diz respeito a esse poder de interdição, Foucault (1969 [2002, p.150])
aponta a impossibilidade de descrição de nosso próprio arquivo, dado que é no “interior
de suas regras que falamos, já que é ele que dá ao que podemos dizer – e a ele próprio,
objeto de nosso discurso – seus modos de aparecimento, suas formas de existência e de
coexistência, seu sistema de acúmulo, de historicidade e de desaparecimento”. Assim,
de um lado, temos o desejo de memória, de estabilizar o passado, de congelar os dados e
de projetar um porvir; de outro lado, instaura-se o desejo de exclusão, de destruição e de
suspensão de um (outro) porvir – contradição interna que Derrida designa como “mal de
arquivo. A repetição, contudo, é necessária ao arquivo para a acumulação e
capitalização da memória, mas pode também ser sua morte, seu enclauzuramento como
“violência arquival” ou como “conservador” (DERRIDA, 2001, p.17), que faz fixações,
resistência, naturalizações.
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