Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 226

noção, mais especificamente de autores como Derrida, Foucault e Pêcheux, sem seguir
necessariamente essa ordem, mas promovendo um diálogo entre eles, nos intervalos do
que disseram e teorizaram. Levando em consideração a abordagem bastante peculiar de
cada um deles, destacamos que nossa proposta configura-se de modo a contemplar os
pontos de contato entre o tratamento dado pelos autores sobre a noção de arquivo. É,
então, nos interstícios dessa tentativa de aproximação – sem deixar de lado os
tangenciamentos – que trazemos nossas “im-pressões”
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de leitura a respeito do arquivo.
Apresentamos, de antemão, a indicação de que o nosso passeio não será em linha reta,
mas em espiral, girando em torno da palavra arquivo e produzindo gestos de leitura e de
escritura que nos causaram a pensar e dizer.
Entrada no arquivo: efeitos de começo e comando
Para dar início às reflexões, partimos do excerto: “Há sempre mais que um – e
mais ou menos que dois. Tanto na ordem do começo, como na ordem do comando.”
(DERRIDA, 2001, p.12). Embora a designação
arkhê
aponte para um começo e para um
comando, tais princípios parecem ser, muitas vezes, da ordem da ilusão, da
impossibilidade, como complementa Derrida: “Tudo seria simples se houvesse um
princípio ou dois princípios” (p.11). A condição do arquivo, muito além de um retorno à
origem, uma lembrança, uma memória, pode ser pensada como “operação topográfica
de uma técnica de consignação, constituição de uma instância e de um
lugar de
autoridade
(o arconte, o
arkheion
...)” (p.8).
O
arkhê
designa esse princípio da natureza, um começo, um caos (phusis); e o
princípio da lei, comando, é que vem labutar, delimitar com a lei, em acordos, que
implicam o que deve/pode ou não ser por ela legitimado. Portanto, ordem do político,
do cultural (DERRIDA, 2001). Desde Freud (1891), há uma marcada diferença entre
representação-palavra e representação-objeto que instaura uma hiância (real) e que
possibilita a organização simbólica e as construções e desconstruções históricas; um
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Destacamos que, para falar de arquivo, Derrida utiliza o termo “impressão”, em vários sentidos, tais
como: i) impressão como inscrição, como uma impressora que permite a reprodução ou a repetição; b)
impressão como algo vago, impreciso e indefinido; c) impressão como marca da cultura, como um “rastro
de uma incisão diretamente na pele” (2001, p.33).
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