Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 218

Considerando o processo de transformação oral-escrito deste
corpus
, levantamos a
seguinte hipótese: na palestra, L1 é representado pela palestrante, e L2 é representado pelas
Leis (que são lidas pela palestrante). Em outras palavras, L1 é o discurso citante e L2 o
discurso citado, é L1 quem inicialmente propõe L2, formando, assim, uma hierarquia de
locutores.
Desse modo, os números que se referem às ações (e aos enunciados) 1, 2, 4, 6 e 8
remetem aos fatores que garantem a presença marcada de L1 (palestrante) nesse discurso, a
saber: a prosódia, os gestos, pausas, o olhar e a entonação. Os mesmos fatores acrescidos de
uma diferenciação na cadência e no ritmo de fala também servem para marcar L2 (2ª Lei do
Fim do Tráfico), além disso, a própria leitura do texto de apoio confirma a presença de L2,
que aparece, portanto, nos enunciados concomitantes com as ações expressas pelos
números 3, 5 e 7.
Vejamos como essa mesma citação é transferida para o texto escrito. Segundo Risso
(1978), a estruturação do discurso direto na escrita apresenta, geralmente, o seguinte
esquema: [frase introdutora + verbo
dicendi
+ dois pontos] + [abre aspas + citação + fecha
aspas] + [comentário sobre a citação]. Assim, em Retextualização (1), a polifonia de
locutores se dá por L2 (Lei) marcado pelo aspeamento, isto é, pelo conteúdo linguístico que
se encontra no interior dos sinais gráficos “ ” e L1 (palestrante) aparece marcado na
envoltura das aspas.
Retextualização (1)
L1
[Em 1850 surge uma nova lei, que é a 2ª Lei do Fim do Tráfico, ela dizia o seguinte:]
L2
[“todos
os escravos que forem apreendidos serão reexportados por conta dos Estados para os portos de onde
tiverem vindo, ou para qualquer outro ponto fora do Império que mais conveniente parecer ao
governo e enquanto essa reexportação não se verificar serão empregados em trabalhos debaixo da
tutela do governo, não sendo em caso algum concedidos...”],
L1
[ou seja, esse serviço era
particular, eles deixavam de ser escravos dos senhores para serem escravos do governo. Essa era
uma lei que proibia o tráfico, mas que na verdade, trazia uma liberdade que tinha esse valor e esse
limite.]
Na retextualização escrita, temos um processo mais complexo porque se pressupõe
um autor L3 (responsável pela retextualização) que organiza a fala original de L1 e retoma
as citações, novamente mostrando a presença marcada de L2. No entanto, essa suposição só
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