Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 212

Alguns apontamentos sobre fala e escrita, transcrição e retextualização
Tanto a fala como a escrita apresentam características próprias, as quais garantem
regularidades particulares de manifestação linguística. A fala, por exemplo, recorre a
fenômenos como a prosódia, a gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos; a escrita,
por sua vez, apresenta tamanhos e tipos de letras, cores, formatos e grifos. Mas, apesar
dessas singularidades, ambas apresentam alguns pontos em comum: são práticas e usos da
língua, possuem eficácia comunicativa e potencial cognitivo, constroem textos coesos,
coerentes e permitem a elaboração de raciocínios abstratos, exposições formais e informais,
variações estilísticas, sociais e dialetais.
Fala e escrita, do ponto de vista dos usos do cotidiano da língua, não se formam por
características estanques e dicotômicas, mas suas diferenças e semelhanças, como assegura
Marcuschi (2003, p.37), “se dão dentro do
continuum
tipológico das práticas sociais de uma
produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos”. Por isso, segundo o
autor, ambas se distinguem e se relacionam a partir do contínuo dos gêneros textuais, cada
qual utiliza estratégias de formulação que, por sua vez, determinam suas características e
que, finalmente, produzem variações estruturais, seja nas seleções lexicais ou no estilo do
texto.
No
continuum
a que Marcuschi (2003) se refere, evidenciam-se dois planos: o
superior, que representa o
continuum
da escrita e, o inferior, o da fala. Pinheiro (2005)
retoma essa trajetória, esclarecendo que na extremidade superior encontramos a
representação prototípica da escrita, um artigo científico, por exemplo. A partir dele, outros
textos escritos vão sendo dispostos nessa linha imaginária, em pontos intermediários, os
quais vão assumindo, gradativamente, do ponto de vista conceitual, características da fala.
Do mesmo modo, Pinheiro (2005) complementa que, no plano inferior, encontramos a
representação prototípica da fala, uma conversação espontânea, por exemplo. A partir desse
texto falado, identificam-se, sucessivamente, outros textos que vão, de forma gradativa,
seguindo a linha imaginária e ganhando características conceituais da escrita. Assim, à
medida que ocorre um afastamento dos textos pertencentes ao pólo prototípico, vão
surgindo gêneros textuais novos que se caracterizam ora como medialmente falados, mas
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