Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 214

operações que afetam as estruturas discursivas, o léxico, o estilo, a organização tópica, a
linha argumentativa e se acham ligadas à reordenação cognitiva e à adaptação do texto
falado para o escrito.
Dentre as transformações que envolvem a prática acima descrita, focalizaremos
nosso estudo nos aspectos que dizem respeito às formas de citação tanto na palestra como
na retextualização escrita. Sendo assim, mais adiante veremos como a literatura aborda tal
fenômeno, que é, ao mesmo tempo, interpelado por outros, como a polifonia e a
heterogeneidade.
Considerações a respeito de polifonia, heterogeneidade e discurso citado
Bakhtin, em
Problemas da Poética de Dostoievski
(1981) observou um fenômeno
característico e recorrente na obra literária desse escritor – a pluralidade de vozes, e
constatou que, ao contrário do romance tradicional de ordem monológica (aparentemente
uma só voz, um só discurso), o romance de Dostoievski era polifônico, ou seja, deixava
entrever uma multiplicidade de vozes, as quais apareciam e co-existiam em um mesmo
texto.
A noção de romance polifônico, portanto, surgiu nos estudos da linguagem, com
Bakhtin (1981), na observação do texto literário de Dostoievski. Anos depois Ducrot, em
O
Dizer e o Dito
(1987), mais especificamente no capítulo intitulado
Esboço de uma teoria
polifônica da enunciação
, retomou o conceito e o ampliou para os estudos linguísticos.
Em seus estudos, Ducrot (1987) observou alguns problemas com relação à teoria da
unicidade do sujeito vigente na época
4
, aquela que previa um ser único, dotado da atividade
psicofisiológica de produzir o enunciado, que é ao mesmo tempo autor e origem dos atos
ilocutórios.
A indagação de Ducrot (1987) era a seguinte: o que fazer com os casos de retomada,
pressuposição, discurso citado, ironia e negação, já que não se enquadram na definição de
enunciação proposta por aquela teoria? A partir daí, o linguista criou uma disciplina
4
Émile Benveniste, no artigo
O aparelho formal da enunciação
(1995), define a enunciação como o colocar
em funcionamento a língua por um ato individual de utilização.
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