Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 213

conceitualmente escritos (a palestra é um bom exemplo disso); ora como medialmente
escritos, mas conceitualmente falados (os bilhetes). Ou ainda, gêneros equilibradamente
marcados, do ponto de vista conceitual, tanto pela fala, como pela escrita (notícias de jornal
ou revista; notícias de televisão ao vivo).
Uma vez que a materialização textual da fala e da escrita se dá de acordo com a
situação, é preciso partir do contexto de produção dos textos falados ou escritos para
analisá-los coerente e consistentemente. Dessa forma, para que possamos analisar os textos
que compõem o
corpus
desse trabalho é preciso entender seu contexto específico de
produção, ou seja, compreender os processos de transcrição e retextualização.
De início, é fundamental saber que a escrita não apenas transcreve a fala em outra
substância de expressão, isto é, passagem do plano sonoro para o plano gráfico. A
transcrição da modalidade oral para a escrita é um processo complexo, já que a escrita
busca outros recursos para expressar os conteúdos que a fala exprime pela sonoridade.
Na passagem de um texto falado para um texto escrito, não há uma transposição
simples de conteúdo, pois os recursos diferentes de expressão estão relacionados a
diferenças de sentido. Tanto as transcrições para escrita de um texto falado, como a leitura
oral de um texto escrito trazem marcas de escrita e de fala, respectivamente. Conforme
Barros (2001, p.75), “não se passa impunemente da substância sonora da fala à visual da
escrita, pois há consequências no nível da forma da expressão e no plano do conteúdo”.
Assim, transcrever não é uma atividade de metalinguagem nem é uma atividade de
simples interpretação gráfica do significante sonoro, mas se caracteriza, antes de tudo,
como o primeiro passo para a retextualização. No entanto, não existe uma receita para a
transcrição “neutra”, pois toda a transcrição já é uma primeira interpretação na perspectiva
da escrita. A transcrição é falha porque adapta as peculiaridades da fala às da escrita e essa
adaptação, portanto, já se caracteriza como transformação.
Antes, porém, de qualquer atividade de transformação textual, ocorre uma atividade
cognitiva denominada compreensão. Segundo Marcuschi (2003), a retextualização não é a
passagem de um texto supostamente descontrolado e caótico para outro controlado e bem-
formado. No processo de reescrita, entram em ação algumas estratégias de regularização
linguística, as primeiras alterações são muito relacionadas à norma padrão, surgem, depois,
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