Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 215

denominada
Pragmática Semântica
e apontou sua concepção de enunciação, afastando dela
a noção “é o ato de alguém produzir o enunciado”, para introduzir seu postulado “é o
acontecimento histórico constituído pelo aparecimento de um enunciado”.
Nessa nova definição, o linguista não despreza a existência de um sujeito falante,
que fisiologicamente enuncia. Para explicar os casos omissos pela teoria da unicidade do
sujeito e confirmar sua tese, Ducrot (1987) formula sua primeira oposição, a de “locutores
versus
sujeito empírico”, e esclarece que o locutor é o responsável pela ocorrência do
enunciado, é uma criação ou uma ficção do discurso. Por outro lado, o sujeito empírico é o
ser físico e psicológico que é exterior ao discurso. Em seguida, Ducrot (1987) diferencia o
locutor enquanto tal (L), que é responsável pelo enunciado, e o locutor enquanto ser do
mundo (λ), que é a pessoa completa, origem do enunciado.
Dessa forma, surge a primeira polifonia a que Ducrot (1987) denomina “polifonia
de locutores”, em que ocorre, na enunciação, o desdobramento do locutor, dando origem à
dupla enunciação, fenômeno pelo qual o locutor coloca em cena dois ou mais locutores.
Ocorre também uma segunda polifonia, a de enunciadores. Segundo o autor, os
enunciadores se expressam por meio da enunciação, “falam” seu ponto de vista, sua
posição, atitude. Para explicar essa polifonia, Ducrot (1987) se vale de comparações.
Pensando no texto narrativo, por exemplo, o enunciador seria a focalização do narrador, ou
seja, é “quem vê”, o ponto de vista; e o locutor seria o próprio narrador, construído pelo
autor, que é personagem, ser fictício, interior à obra, “é quem fala”; já o autor, que é
necessário existir para que o romance seja escrito, corresponde ao sujeito falante.
Devido ao recorte e aos objetivos específicos deste trabalho, detenhamo-nos à
primeira polifonia, a de locutores. Nesse tipo, o discurso citado serve como ilustração.
O discurso citado é polifônico, portanto, heterogêneo. Segundo Authier-Revuz
(1990) a heterogeneidade no discurso significa que, constitutivamente em seu interior,
existam além dele, outros discursos. Caso escape ao locutor a percepção da
heterogeneidade constitutiva, há situações em que ele não apenas percebe a presença do
outro no seu discurso, como deseja dar a conhecer essa presença, são os casos de
heterogeneidade mostrada; é o caso do discurso citado.
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