Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 211

escrita, a citação geralmente é marcada e por isso pode ser identificada pelo interlocutor ou
pelo leitor.
Dito isso, nosso estudo inicia a partir da constatação da existência de discurso citado
em um gênero textual da oralidade – a palestra institucional. Em princípio, levantamos a
seguinte hipótese para essa recorrência: a palestrante pem apreço
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sentiu necessidade de
argumentar sua fala, a partir da leitura e da citação de outras falas, principalmente de
autoridades políticas e jurídicas (Leis). Essa necessidade foi gerada devido ao assunto
abordado nas palestras, a saber, cotas para negros nas universidades públicas brasileiras,
assunto muito polêmico e bastante debatido na época.
Com efeito, para que possamos desenvolver nossa discussão, temos de esclarecer,
primeiramente, a natureza dos textos que servem como suporte para este trabalho. Nosso
corpus
apresenta três instâncias: a primeira, é a palestra propriamente dita na sua
materialidade oral (audiovisual); a segunda, é a transcrição dessa fala; a última,
compreende a retextualização escrita do texto falado
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.
Existem, pois, algumas implicações nesse processo, que passam em primeira
instância pelo também processo oral-escrito. Sendo assim, os objetivos que aqui propomos
são os seguintes: 1) Identificar as formas de discurso citado na palestra e na respectiva
retextualização escrita e descrever como elas se estruturam para marcar a polifonia de
locutores; 2) Verificar o uso do discurso citado na construção dos sentidos dos textos,
principalmente, na passagem do texto falado para o texto escrito.
Para atender tais questões, apresentamos alguns conceitos-chave que fundamentam
este trabalho, a saber: fala e escrita, transcrição e retextualização, polifonia,
heterogeneidade mostrada e discurso citado.
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A palestra intitulada “O sistema de cotas e o direito de acesso à universidade” foi realizada em 2004, na
Universidade Estadual de Maringá, em virtude do “IV Encontro o negro na universidade: o direito à
inclusão”, e foi proferida pela Professora Dra. Dora Lúcia de Lima Bertúlio (UFPR). No mesmo ano, foi
apresentado ao Governo Federal o Projeto de Lei nº. 3.627 que pleiteava cotas para negros na educação
superior do Brasil. Este fato gerou muita polêmica e fez com que o assunto “cotas” percorresse por vários
setores do país: midiático, político, cultural e educacional.
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A transcrição e a retextualização da palestra foram realizadas pelo Projeto Banco de Dados Midiáticos da
Universidade Estadual de Maringá (BDM/UEM). As transcrições seguem de acordo com as normas do
NURC, e as retextualizações seguem de acordo com a metodologia proposta por Marcuschi (2003).
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