Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 230

(FOUCAULT, 1969 [2002, p.151]). Em outras palavras, “o arquivo designa uma (pré-
)condição para a construção de uma arqueologia
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” (GALLI, 2008, p.101).
Trazemos, aqui, a metáfora da Babel – usada por Derrida em “Torres de Babel” –
que também contempla a impossibilidade de finitude e de limite do arquivo, da
memória, do discurso – os quais exibem “um não-acabamento, a impossibilidade de
completar, de totalizar, de saturar, de acabar qualquer coisa que seria da ordem da
edificação...” (DERRIDA, 1985 [2002, p.11-12]) –, apontando para a diversidade, para
a dispersão, enfim, para a ideia de “um [constante] sistema em descontrução”. E assim
parece ser o arquivo: uma Babel, sem começo exato e sem fim instituído; ora remete ao
passado, fazendo emergir a memória; ora remete ao presente, em funcionamento; e
ainda pode apontar para o futuro, em aberto. Esse porvir, coloca Derrida (2001, p.48), é
o que o “arquivo deveria pôr em questão“. Concordamos com o autor na medida em
que, muito mais que e além de uma coisa do passado, o arquivo instaura uma
organização outra...
... o arquivo aumenta, cresce, ganha em
autorictas
. Mas perde, no mesmo golpe, a
autoridade absoluta e metatextual que poderia almejar. Jamais se poderá objetivá-lo sem
um resto. O arquivista produz o arquivo e é por isso que o arquivo não se fecha jamais.
Abre-se a partir do futuro. (DERRIDA, 2001, p.88).
Tal assertiva nos coloca diante do que poderíamos chamar de dobradiça do
arquivo em uma metáfora que nos permite pensar o dentro e o fora, o passado e o
presente, a produção e o esfacelamento do arquivo. Explicamos melhor, a peça de metal
formada de duas chapas unidas por um eixo comum, e sobre o que gira a porta, é a
dimensão do que sustenta tanto a abertura quanto o fechamento de uma passagem,
torcendo-a ambos se estabelecem. Também o arquivo promove tais movimentos de
passagem para o futuro, jogando tanto com o que está ali condensado, quanto com o que
foi esquecimento ou impedido de estar ali. Estira-se o movimento e alarga-se o curso:
assim o arquivo é, em sua condição de gerúndio e de sempre estar sendo em condições
históricas pontuais.
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O termo “arqueologia” está no título de três obras:
Nascimento da clínica. Uma arqueologia do olhar
médico
(1963),
As palavras e as coisas. Uma arqueologia das ciências humanas
(1966),
A Arqueologia
do saber
(1969). A partir do início dos anos 70, Foucault adota o conceito de “genealogia” (nietzschiana),
em substituição ao termo “arqueologia” (REVEL, 2005, p.16).
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