Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 234

certos sentidos e, ao fazê-lo, põe em estado de exclusão uma série de e campos de dizer
tidos como marginais, relegados ao esquecimento, à interdição ou a outros movimentos
de inscrição. Diga-se de passagem que o que não pode ser dito de um modo, o é de
outro, ou melhor, o que não pôde ser guardado em um arquivo oficial, não deixou de
existir ou de ser (bem)dito, apenas pulsa de outro modo.
Algumas impressões, ainda...
A noção de arquivo que aqui abordamos – a partir de Derrida, Foucault e Pêcheux
–, como apontado ao longo do texto, foge da definição tomada (quase sempre) no senso
comum, na medida em que contempla a não-permanência, a não-plenitude, a
impossibilidade de fechamento e de totalização. Na contramão dessas características, o
arquivo nos reserva, pois, o aparecimento (des)ordenado dos dados, o silenciamento de
dizeres, a multiplicidade de outras vozes, enfim, o arquivo, como “repositório dos
sentidos, (...) alternando um movimento necessário que vai oscilar entre presença e
ausência, entre lembrança e esquecimento” (FERREIRA, 2008, p.22), é campo aberto e
desnudado para a falta e o impossível, aquele “mal de arquivo” de que já falamos antes.
Desse modo, o arquivo não é visto como um conjunto de "dados" objetivos dos quais
estaria excluída a espessura histórica, mas como uma materialidade discursiva que traz
as marcas da constituição dos sentidos. O material de arquivo está sujeito à
interpretação e, mais do que isso, à confrontação entre diferentes formas de
interpretação e, portanto, não corresponde a um espaço de "comprovação", onde se
suporia uma interpretação unívoca. (NUNES, 2005, s.p.).
De nosso ponto de vista, o que sustenta a condição do arquivo é a linguagem que,
de “natureza fragmentada, dividida contra ela mesma”, se alterada, perde sua
transparência primeira (FOUCAULT, 1966 [1999, p.49]). Entendemos a língua, então,
como efeito de opacidade e incompletude, e justamente por não ser toda nem apresentar
garantias de completude, os sujeitos tendem a continuar a dizer e a movimentar-se com
ela, tecendo sempre o inesperado. Esta condição sustenta gestos tão freqüentes na
atualidade de valorização de arquivos (os eletrônicos mais do que outros), de
recuperação e preservação de memórias orais em instituições tidas como arquivo
reconhecido e de inquietação diante da instabilidade e da provisoridade de arquivos
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