Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 243

se proceder desse modo se proíbe ao sujeito ocupar certos “lugares”, ou melhor,
proíbem-se certas “posições” do sujeito.”
Podemos perceber, neste momento, de que modo o Estatuto da Igualdade Racial
é considerado como o produtor de um acontecimento discursivo. Ele é o encontro de
uma memória – a da miscigenação racial – com uma atualidade, o apagamento dessa
memória. É neste acontecimento que podemos encontrar vestígios de um movimento,
um deslocamento nas posições de sujeito, promovendo o silenciamento da miscigenação
racial na sociedade brasileira.
Em decorrência desse Estatuto, uma organização de movimento sócio-racial,
denominada Movimento de Resistência Mulata, fez um pronunciamento acerca da
inclusão dos mulatos na parcela negra da população. Este movimento busca garantir a
identidade dos sujeitos pertencentes a outro grupo social, que não se identifica aos
“negros”, tampouco aos “afro-brasileiros”, mas busca um lugar de dizer “exclusivo”.
Vamos nos deter agora à análise do recorte abaixo, retirado de um discurso da
Organização de Resistência Mulata:
Mulato não é branco, mulato não é preto, mulato é mulato, uma identidade própria
discriminada pela política antimestiça do governo brasileiro. Cabe a nós, mulatos,
assumirmos
nossa
identidade
ou
nos
submetermos
à
alienação.
Talvez a alegoria da bucha de canhão sirva perfeitamente para ilustrar o papel reservado
aos mulatos pelos arquitetos das políticas de ação afirmativa do governo do "partido da
ética": servir de massa descartável útil para aumentar a pressão da bala de canhão de um
grupo dos movimentos negros que orienta as políticas da Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR)
Ao definir “mulato” como parte do grupo dos “afro-brasileiros”, o Estatuto da
Igualdade Racial promove um movimento do sentido daquele termo, que é assimilado a
este. Isso produz um apagamento na memória discursiva acerca da constituição racial do
mulato, entendendo-o como fruto da miscigenação entre “negros” e “brancos”, e
significando-o apenas como descendente afro-brasileiro. Como um contra-discurso, os
integrantes da Organização de Resistência Mulata produzem um discurso de resistência
– neste caso, contra a unificação das designações referentes às várias diversidades
1...,233,234,235,236,237,238,239,240,241,242 244,245,246,247,248,249,250,251,252,253,...1290
Powered by FlippingBook