Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 246

seguinte: “Lugar de preto é na senzala”. Ao designar tais sujeitos como “pretos”, o
sujeito da enunciação o faz de uma posição-sujeito no interior de uma formação
discursiva que recruta sentidos racistas para sustentarem seus dizeres. Assim, o léxico
“preto” produz um efeito de sentido que desloca a condição social desse sujeito,
movimentando seu dizer para uma posição inferior na sociedade. Ademais, esses dizeres
garantem a presença de discursos racistas na sociedade atual, visto sustentarem as
diferenças sociais baseadas em características étnico-raciais.
Pelo fato de haver uma memória de dizeres acerca do negro no Brasil, e a
impossibilidade de essa memória ser silenciada, de o preconceito ser eliminado da
sociedade, buscou-se, pelo procedimento de designação, uma alteração nos modos de
dizer esses sujeitos. Assim, a presença dos léxicos “afrodescendente” e “afro-
brasileiro”, como tentativa de sucumbir uma memória pejorativa acerca da escravidão e
da desigualdade racial, começou a circular na sociedade. Não obstante, tais modos de
designar concorreram para que outras posições de sujeito fossem silenciadas, e seus
dizeres, apagados, impedidos de significarem. Isso ficou claro em nossa pesquisa, ao
percebermos que os termos “mulato”, “pardo” e “preto” não estavam presentes na
discursividade de uma revista posta a circular na Universidade Federal de São Carlos.
Em tal revista, encontramos no início da reportagem o seguinte enunciado: “(...) 35%
serão destinadas a alunos negros (pretos e pardos) (...)” (Informando, 2007, p. 10).
Podemos perceber que os léxicos entre parênteses funcionam como uma espécie de
aposto para o termo anterior, ou seja, “pretos” e “pardos” atribuem uma especificidade a
“negros”. Diremos que “negros” reescreve “pretos” e “pardos” de modo a funcionar
como uma hiperonímia desses termos, apagando-os no discurso.
Notamos que o enunciador ocupa uma posição-sujeito institucional, ou seja, os
dizeres são regulados pela instituição superior – UFSCar. Assim, mais uma vez,
percebemos que a miscigenação é silenciada em detrimento à homogeneidade racial da
população. A seguir, analisaremos um recorte retirado de uma matéria jornalística
acerca das cotas raciais para ingresso na universidade. Em um noticiário que circulou na
Folha de S. Paulo, no dia 15 de maio de 2008, acerca das cotas, encontramos o seguinte
enunciado: “A questão das cotas para negros em universidades ganhou fôlego nos
últimos dias em razão de manifestações de grupos favoráveis e contrários à política”.
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