Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 239

desses “sujeitos”, eles não podiam usufruir de uma posição social um pouco mais
privilegiada, pois continuaram usurpados de sua qualidade de sujeito. Nessa época,
comumente esses sujeitos eram designados como “negros”, ou seja, essa designação
passou a ser um modo corriqueiro de nomear tais sujeitos mesmo após sua alforria,
carregando, contudo, uma memória de sentidos sobre a escravidão a que eram
submetidos.
Não obstante, havia as condições de miscigenação racial existentes no país.
Naquele período era comum os senhores de engenho manterem relações escondidas
com suas mucamas. Como não havia nenhum método contraceptivo, essas escravas
davam à luz filhos de origem miscigenada, fruto da mãe negra e “pai” branco – as aspas
devem-se ao fato de os senhores não reconhecerem as crianças como seus filhos.
Ademais, era comum o relacionamento de negros com indígenas, originando filhos que
possuíam uma dupla identidade, negra e indígena. Entretanto, esses sujeitos oriundos da
miscigenação entre brancos e negros não poderiam ser considerados brancos, visto
terem sangue negro também; tampouco os senhores assumiriam tais como seus
herdeiros.
Contudo, em relação aos negros “puros”, esses mestiços (mulatos, pardos,
cafuzos, mamelucos) usufruíam de uma melhor condição social de tratamento, visto
possuírem ascendência branca (FREYRE, 2006). Mera ilusão. Na sociedade, entre os
brancos, esses sujeitos eram tratados como negros, sem direitos como os brancos, sendo
considerados “impuros”. Mais, nesse instante, começa-se a trabalhar uma memória
acerca desses sujeitos, qual seja, eles eram considerados perigosos, pois não eram
submissos como os negros, não aceitando as ordens dos senhores, mas também não
poderiam ser considerados brancos. Nessa época surgem os discursos acerca dos
mestiços, sobre o perigo que estes ofereciam para a sociedade; como exemplo desses
discursos, podemos verificar o que nos diz o diretor do Museu Nacional do Rio de
Janeiro, João Batista Lacerda: “o Brasil mestiço de hoje tem no branqueamento em um
século sua perspectiva, saída e solução” (LACERDA, 1911
apud
SCHWARCZ, 1993,
p. 11).
Ora, é nítido o efeito de sentido produzido por este enunciado, promovendo a
atualização de uma memória contrária à miscigenação racial. Tinha-se, naquela época,
como objetivo o “branqueamento” da nação como sendo um modo de melhorar a
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