Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 245

Como gênero discursivo, tomamos a definição de Bakhtin (2003, p.262),
segundo o qual, os gêneros compõem-se de “(...) tipos geralmente estáveis de
enunciados (...)”. Acima, tratamos de um gênero discursivo voltado à legalidade – o
Estatuto da Igualdade Racial; gostaria de mostrar, agora, o funcionamento dessas
designações em um gênero mais rudimentar, qual seja, as pichações. Para tanto,
tomemos como exemplo a pichação abaixo:
Figura 1: Frases são contra o sistema de cotas da UFS (Foto: Sergipe em Destaque)
Na pichação acima, podemos verifica uma inscrição contra as políticas de ações
afirmativas; tal enunciado foi inscrito em um muro da Universidade Federal de Sergipe.
Podemos notar a emergência dos enunciados “(...) seus macacos fedorentos (...)” e “(...)
lugar de preto é na senzala (...)” (grifos nossos). Podemos verificar que o modo de
designar os sujeitos que ingressaram na universidade por meio das políticas de ações
afirmativas é feito de uma posição de sujeito racista, discriminatória. Isso fica claro
pelos sentidos rememorados nas enunciações presentes; ao designar tais sujeitos
beneficiados pelas cotas, o enunciador atribui-lhe um lugar social inferior, a ponto de
predicá-lo como um animal, pelo léxico “macaco”. Ou seja, há presente, neste
acontecimento, um forte preconceito acerca dos sujeitos cotistas, numa clara relação de
sentido construída referencialmente, isto é, pela formação imaginária baseada nas
características físicas desses sujeitos, sustentadas por um dizer racista. Não obstante,
podemos perceber a presença de um outro modo de designar tais sujeitos, no recorte
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