I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 22

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I. Introdução
Publicado em 1989, o romance
O testamento do senhor Napumoceno
(OTSN) do escritor
cabo-verdiano Germano Almeida se insere em um contexto pós-independência da nação cabo-
verdiana, e num panorama mundial de globalização. Tendo em vista este cenário, a obra não escapa
de um diálogo com a nova realidade instaurada neste país recém liberto.
Em 1974 Cabo Verde conquista sua independência frente à metrópole lusitana, com
isso, novas relações de poder e configurações sociais são estabelecidas neste país, fazendo-se
também iminente a elaboração de um novo quadro artístico-literário na Nação. Até então, as
literaturas contemplavam temáticas ligadas à fome, à seca, que focalizavam o ambiente rural,
procurando registrar a cor local. Após a independência, fez-se necessária uma revisão, já que não
cabia mais a identidade fundamentada na contraposição à metrópole, posto que, “A identidade
torna-se uma ‘celebração móvel’ forma e transforma continuamente em relação às formas pelas
quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.” (HALL, 2001,
p.13). Coube, portanto, às manifestações culturais acompanhar este processo de transformações.
Pode-se dizer que um dos meios de divulgação cultural que primeiro apontou para uma
nova tendência foram as revistas literárias, neste caso em particular,
Ponto & Vírgula
(1983-1987).
É de conhecimento que Cabo Verde já vinha de uma tradição de publicações em revista, e um dos
grandes destaques foi a revista
Claridade
(1936-1960), de onde emergiram importantes escritores
do país. Na ocasião dos claridosos (assim designados os pertencentes à fase da
Claridade
), a luta
política era essencialmente contra o colonialismo português e uma de suas principais temáticas
acabava sendo a contemplação dos elementos locais, para que assim dessa forma, se pudesse
provocar
no
povo
cabo-verdiano
um
sentimento
de
nacionalidade
e
de
pertencimento/reconhecimento. Esta identidade nacional serviria, portanto, para causar uma união
na ilha que, ao mesmo tempo os fortalecesse contra o império português, e os desvinculasse da
identidade colonial.
Todo este processo foi importante na consolidação das demais manifestações e revistas que
surgiram posteriormente à
Claridade
. Mas, conquistada a independência, como já mencionado
acima, fez-se necessário uma atualização de temáticas e, foi, então, neste tocante que a revista
Ponto & Vírgula
inaugurou as direções de uma nova fase na literatura cabo-verdiana. A revista
procurou estabelecer um diálogo mais amplo, incorporando temas universais e concentrando
atenções à escrita, desvencilhando, assim, do político mais panfletário: “A autonomia desta revista
possibilitou assim uma maior liberdade de expressão e apontava os caminhos de uma
democratização cultural, o que foi, de certa forma, bem conseguido na altura.” (GUERREIRO,
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