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o humor e palavras consideradas de baixo calão mais aproximadas da fala popular. Sendo assim, é
possível verificar que Germano Almeida inova a escrita literária de Cabo Verde.
II. Os Elementos cômicos da narrativa – O riso para uma nova literatura
O humor talvez tenha sido uma das grandes novidades estéticas que Germano
Almeida introduz em seu romance
OTSN
e com isso, confere um novo tom à literatura
cabo-verdiana como nos descreve Maria Aparecida Santilli (2007):
A primeira pista que ocorre é da visível atração do romancista pela
estética do riso, que tem relevo em outras obras suas e o fato é que se
convertem em formas de dar, entre outras oportunidades, a de navegar nas
águas do conhecimento, praticando o que se diz ser um privilegio da
espécie, do homem como o animal que ri. (SANTILLI, 2007, p. 186).
Diversos são os elementos cômicos possíveis de se identificar na obra. Dentre eles
está o próprio diálogo estabelecido com a estrutura dos textos de comédia, incluindo,
sobretudo, o processo de formação deste gênero:
O aparecimento da comédia surge tardiamente por motivos de ordem
política de Atenas. È que sendo a Comédia Antiga uma sátira pessoal
violenta, pois como se falou, houve uma verdadeira fusão do
komos
, ritual
com o popular, uma representação cômica, onde a política ocupava
sempre um lugar de honra, só era possível num clima de liberdade
absoluta. [...] É que, a par do senso humorístico do caráter crítico, a
comédia era, como afirma Trictos Ehrenberg, uma questão interna do
povo soberano que gozava de completa “parresia”, isto é de absoluta
liberdade de palavra. (BRANDAO, 2007, p. 75-76)
Tendo em vista o percurso do nascimento da comédia antiga é possível
estabelecer correlações com a escolha de elementos do gênero na obra
OTSN
. Ao se
estruturar o romance pelo viés do humor, Germano estaria indicando uma nova fase da
literatura cabo-verdiana. Não à toa, esta nova fase inaugurada está inserida num contexto
pós-independência, que, assim como em Atenas do período de surgimento da comédia,
gozava do espírito de uma maior liberdade da palavra. Esta liberdade reside no campo do
próprio desprendimento de fórmulas enraizadas nos modelos da literatura de Portugal, ou
literatura europeia, praticados em Cabo Verde.