I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 17

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concreta. Logo se diz: "Esse romance é tão real como a vida!" Está claro que essa
afirmativa representa uma força de expressão, pois o texto ficcional não
é a realidade
, mas
provoca o
efeito
do real
.
Assim é que, na realidade, o homem do campo relaciona-se com a natureza de
forma diferente do citadino. O homem urbano, ao defrontar-se com os elementos naturais
(matas, pássaros, montanhas, rochas, etc.), porta-se como um basbaque. Tudo é novidade
para ele, daí a sua admiração e embevecimento pelo que vê. Já o camponês conhece a
natureza e trava com ela uma batalha. Trata-se de uma relação dialética de
ódioversus
amor.
3.
Depois da tempestade...
Em relação à terra, é diferente. O lavrador a ama e é parte integrante dela.Assim,
para José da Cruz a vida recomeçava. O movimento de idas e vindas de pessoas era
intenso, as vozes, antes sussurradas, agora, gritos e cantigas; aqueles que não semearam em
pó, dedicavam-se à tarefa do plantio. A vida recomeçava animada e frenética. Há
momentos na narrativa que lembram cenas de um filme, como se uma câmera se
movimentasse rapidamente, focalizando uma série de situações ao mesmo tempo. Aliás,
quando falamos sobre
Vidas Secas
, salientamos a importância que tem o cinema para os
escritores neo-realistas. A linguagem neo-realista tinha como referência a linguagem
cinematográfica. Daí, os efeitos múltiplos causados pela leitura de romances ligados a essa
corrente literária. Abaixo, um exemplo da relação do romance de Manuel Lopes com o
cinema:
...mulheres papagueando com balaios no cocoruto da cabeça...meninos praguejando
atrás de burricos de passinhos curtos e saco de mantimento na sela, ou lombando rijo nos
mais preguiçosos, com varas de marmelo...homens com largas alpercas de couro ou de
pneu de automóvel, buli de água a tiracolo, ou amarrado ao cinto, surrão de pele de cabra
ou sarraia de cabrito suspensos ao ombro... (
14
)
Esse momento da narrativa é o momento de maior distensão, o leitor talvez deseje
que o livro acabe assim, mas a fantasia, a ilusão ficcional não se dá de forma tão linear.
(
14
)idem, p. 29
1...,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16 18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,...196
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