18
características: com sonhos perfeitamente realizáveis e outros quase impossíveis. Um dos
sonhos de José da Cruz era o de colocar os filhos na escola, no Norte do Meio. Lela deveria
ter ido há algum tempo, mas não foi possível:
"Era bom ter homem em casa com prenda na cabeça." (
17
)
Normalmente, a nível da realidade concreta, os filhos dos camponeses - mesmo os
mais novos - são necessários ao trabalho. Eles ajudam no plantio, atuam como "soldados"
na roça, impedindo que predadores se aproximem. Manuel Lopes conhecia essa realidade
do campesinato caboverdiano e procurou retratá-la na criação de Mochinho e Lela, por
exemplo. Mais uma vez, encontramos uma identidade com
Vidas Secas
. Fabiano também
sonhava em ter seus filhos na escola.
4.
Maria Alice, a professorinha
Roland Barthes e Jacques Derrida, discutindo o papel do crítico, chegam,
praticamente, ao mesmo ponto. Avaliando um romance ou uma narrativa, o crítico faz uma
obra de acréscimo, ele tenta "decifrar" o que o autor quis dizer. O simbolismo utilizado na
narrativa deve ser desvendado pelo crítico. A disposição da trama e a caracterização dos
personagens são elementos que precisam ser analisados por ele.
Maria Alice ocupa uma importante posição no romance de Manuel Lopes.
Inicialmente, aparece como uma boa moça, "prendada, mansa e triste". O papel reservado à
personagem é interessante. Ela prenuncia os acontecimentos com as cartas que escreve à
irmã. Vivia lá, no Norte do Meio, isolada, longe dos parentes e amigos. Sua relação com a
vizinhança era muito boa, recebia presentes dos moradores, e tinha como companheira Nhá
Gaída. Sua personagem é a reconstituição da
professorinha do interior, das províncias
. O
posto de ensino também era sua casa:
"...uma casinha solitária...de pedra e barro, sem reboco, coberta de palha cor de
cinza, a casa era composta de duas peças com ligação por uma porta interior, ambas com
piso de terra calcada." (
18
)
(
17
)idem, p. 50
(
18
)idem
