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José da Cruz era o homem que dava força aos seus companheiros. Não era homem
para ser derrubado nos primeiros golpes, ele sempre estava disposto a dizer palavras de
encorajamento:
"Como esses tamarindeiros do Porto Novo que os vendavais não derrubam, assim
era ele. Dava
coragem
aos fracos de espírito
,
e
esperança
aos desamparados
.
"(destaques
nossos)(
4
)
O otimismo de José da Cruz era apoiado por seus sonhos e crendices. O sonhar com
um
anjo
trazendo um balde d'água, despejando-o bem em cima de Terranegra, era o
prenúncio de chuva próxima, o balde despejava, despejava e nada da água acabar.
Já falamos da importância do
mito
parao ser humano. Além do mito, poder-se-ia
acrescentar que o
místico
tambémé um elemento de grande significação, principalmente
para as camadas mais humildes da sociedade. Trata-se de um comportamento universal:
sentindo-se fraco, sem forças para reagir contra obstáculos naturais, o homem simples
apega-se ao misticismo. Os personagens de Manuel Lopes - especialmente José da Cruz -
possuíam uma crença fortíssima nos poderes extraterrenos.
O velho lavrador sentia que o momento estava chegando devido à crença de que o
tempo falava na pele de seu corpo, para ele, o sonho eraum
aviso
dos céus
:
"Aviso de dentro tem de ajustar ao aviso de fora, para dar toda a força"
(
5
)
A certeza da chuva era tanta que José da Cruz resolveu "semear em pó".
Semear em
pó
significa um risco muito grande. Se não chover, perde-se toda a sementeira plantada.
Faltaria em casa, como alimento. Porém, o sonho era o bastante para um lavrador
experiente.
"Se compadre Felícia vir, com o andar do dia, fumo de terra prás bandas de
Terranegra, pode dizer que sou eu a semear em pó..." (
6
)
Apesar da incerteza, José da Cruz não pensara duas vezes e começou o plantio. As
nuvens se formavam, mas eram dispersadas pelos ventos, indo para o mar. A espera, os
grãos na terra seca, tudo isso faz parte de uma descrição muito próxima da linguagem
(
3
)idem
(
4
)idem, p. 14
(
5
)idem, p. 16
(
6
)idem