I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 30

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Relembrando a figura do anti-herói, ou daquele herói as avessas da comédia,
Napumoceno se caracteriza por não ser um homem nobre, mas uma pessoa de vícios e
defeitos. A vida íntima se contrasta com sua vida pública livre de questionamentos e
dúvidas. Assim sendo, ao desmascarar a sociedade burguesa, sobretudo na figura de
Napumoceno, Germano Almeida acaba tocando em características presentes em quase
todas as sociedades. Há a possibilidade, portanto, de um diálogo mais universal.
Outro tópico abordado criticamente pelo escritor diz respeito ao capitalismo. No
livro este novo sistema é percebido sob uma perspectiva cautelosa e, pode-se se dizer
também, receosa. Uma das passagens da narrativa que ilustra este posicionamento
encontra-se exposto abaixo:
[...] e daí que as ideias do sobrinho mais não eram que o normal
desenvolvimento de um capital bem investido e por esta razão
considerava-se legitimo proprietário de qualquer manifestação positiva
que nascesse daquela cabeça. (ALMEIDA, 1996, p. 42)
Neste trecho é evidenciada a maneira como Napumoceno considera ser proprietário
das boas ideias do sobrinho por tratar o intelecto como sendo algo material, e por isso
possível de dar lucros a ele. A palavra a que ele se refere ao designar as ideias é ‘capital’,
em seguida, completa o raciocínio com outra palavra pertencente a este léxico,
‘proprietário’. Assim sendo há uma crítica intrínseca no parágrafo com relação ao
tratamento do capitalismo para com os pensamentos, ao estudo ou ainda de forma mais
ampla à cultura, atribuindo a tudo um caráter de ‘bens matérias’. Ao longo do romance,
outros fatos somam-se a este, demonstrando posturas frente à onda tecnicista e capitalista
do novo século. O autor, sob formas sutis literárias, expõe através dos discursos das
personagens a significativa presença dos Estados Unidos, tanto para os cabo-verdianos
como principal destino da diáspora nacional quanto para o cenário mundial, visto que:
Ninguém negou que o detentor do maior poder dentro dessa configuração
são os Estados Unidos, seja porque um pequeno número de multinacionais
americanas controla a produção, a distribuição e, sobretudo, a seleção de
notícias em que a maior parte do mundo acredita , seja porque a expansão
desenfreada de várias formas de controle cultural originadas dos Estados
Unidos criou um mecanismo de incorporação e dependência cujo objetivo
é subordinar e se impor não só a um público americano interno, mas
também a culturas menores e mais fracas.” (SAID, 1993, p.36)
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