I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 35

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elementos regionais e universais que o caracterizam. A negação do homem ideal advém,
pois, da ideia de que o
idealismo
conduz ao divórcio da realidade, exatamente o que o
Neorrealismo se empenhava em combater.
Além da dimensão mais humana dedicada à representação do homem na literatura,
a narrativa de cunho neorrealista que pretendia tornar possível, em termos teóricos, a busca
por uma expressão estética da realidade, procura privilegiar, ainda segundo REIS (1983):
temas do contemporâneo do escritor, mesmo que esse privilégio implique
a reconstituição de cenários históricos que antecederam o presente; a
valorização de uma representação do tipo dinâmico, adequada, como tal, a
sugerir a transformação do homem concreto projectado para um futuro
que beneficie dessa transformação; a subordinação da dinâmica referida a
procedimentos de natureza dialéctica, aliás em perfeita sintonia com as
concepções filosóficas que presidiam à ideologia neo-realista. (REIS,
1983, p. 40-41).
O conceito de representação do movimento neorrealista passa pela análise dos
procedimentos que configuram o próprio fenômeno literário, e para o cânone neorrealista, a
literatura deveria privilegiar temas de extração social, combater o formalismo puro e
valorizar o estatuto conteudístico da obra literária, demonstrando um empenho ideológico
que evidenciasse as relações entre literatura e vida social.
Assim, pode-se dizer que estão nos princípios da construção literária neorrealista:
o esforço por condensar os elementos que constituem uma realidade objetiva, por parte do
escritor que, preocupado com o caráter superestrutural da obra literária, procura demonstrar
de que forma essa realidade incide na vida de cada grupo humano que compõe determinada
sociedade, valorizando o dinamismo do mundo físico, interpretado segundo as suas bases
ideológicas acerca do convívio social e predeterminado por um distanciamento reflexivo na
formulação dos seus motivos ficcionais.
Para esse empreendimento, o romance foi eleito como o gênero capaz de atender
às formulações em torno da função da literatura elaborada pelos teóricos neorrealistas.
Considerado, por excelência, a forma moderna da expressão literária, o romance tem uma
estrutura completamente mutável, por isso, se adéqua bem aos chamados “tempos líquidos”
(BAUMAN, 2007). No entanto, são essas mesmas características agregadas à forma
romanesca que atribuem a ela uma difícil definição diante da dimensão mutável que possui,
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