I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 34

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I.
Introdução
Os romances da trilogia de Teixeira de Sousa (1919-2006) composta por
Ilhéu de
contenda
(1978),
Xaguate
(1987) e
Na Ribeira de Deus
(1992) se destacam dentro da
moderna literatura caboverdiana por demonstrarem, em seu conjunto, uma preocupação
constante com o retratar pela ficção os aspectos constitutivos e evolutivos da sociedade
caboverdiana da ilha do Fogo, bem como, das condições materiais do espaço e do
predicado humano nele situado.
Importa notar, preliminarmente, que diante da necessidade de representar
ideologicamente os grupos sociais que compunham a mencionada sociedade e a
problemática encerrada em torno da convivência social na ilha, o autor estabeleceu nesses
romances, por meio da perpetuação da escrita e a partir de uma linguagem sempre muito
clara, ao tom coloquial, uma representação das consciências de acordo com a relação que
mantêm com o espaço e a época em que se situam. Portanto, o eixo representativo das
consciências nos três romances se dá através da perspectivação que cada indivíduo mantém
com o ambiente em que está inserido física e socialmente.
A preocupação com o coletivo, em ambas as obras é demonstrada pelo próprio
movimento diegético das narrativas. Os dois planos: o individual/psicológico e o
coletivo/social (que integra o indivíduo ao grupo) se complementam trançando um circuito
que, partindo do drama coletivo, projeta-se sobre a condição interior promovendo a
subjetivação dos acontecimentos, e retorna ao plano coletivo, já que, é ele que importa na
transcrição interpretativa de uma realidade social, tal como propunham os postulados
teóricos do Neorrealismo português, corrente à qual o autor se filiou na produção estética e
ideológica de suas obras. Nesse sentido, interessa considerar que, segundo REIS (1983), o
homem da concepção neorrealista é:
dimensionado como sujeito integrado em grupos a que as circunstâncias
mencionadas atribuíam configuração própria, o homem em que o Neo-
Realismo atentava não era um ser ideal, mas um indivíduo concreto,
merecedor de uma atenção equacionada em termos inteiramente novos.
(REIS, 1983, p. 39-40).
Essa concepção de um homem menos ideal e mais real se fundamenta na principal
preocupação do movimento: a de representar esteticamente o homem e as relações que ele é
capaz de estabelecer no ambiente social em que vive projetando na sua condição humana os
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