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informam os dados históricos de sua colonização, para além ainda dessa determinação
sócio-genética híbrida, ao emigrar, o sujeito estabelece contatos antes inoperáveis, a partir
deles se confrontam circunstâncias e condições diversas e, ao voltar para a sua pátria,
retornam com ele todas as experiências obtidas fragmentadoramente fora dela, e com isso,
já não é mais possível ser o mesmo de outrora, por isso, opera-se uma reformulação da
identidade social, através da qual, o indivíduo se identifica (ou não) com determinadas
práticas, costumes e comportamentos, podendo mudar até mesmo seus conceitos
socioavaliativos em relação à sociedade em que nasceu e se projetou enquanto indivíduo.
De modo geral, Benjamim tem seu modo de vida condicionado pela sua longa
estadia na América. Seus hábitos, vestuários e sua linguagem chegam a causar
estranhamento quando do choque cultural que sua figura promove ao se relacionar com as
outras pessoas da ilha. Mas ao mesmo tempo ele compõe um padrão, pois, os emigrantes
são figuras facilmente reconhecíveis pelos seus peculiares comportamentos, como
demonstra a pesquisa antropológica realizada por BRAZ DIAS (2000) em torno das
condições em que vivem e são vistos os emigrantes retornados em Cabo Verde:
A identificação com o país de emigração dá origem a uma outra
característica dos emigrantes. Tratas-se de um complexo jogo de
identidade que se desenrola a partir da dupla identificação dessas pessoas
com Cabo Verde e o país que os acolheu. São bastante comuns afirmações
do tipo: ‘Sou francês. Francês cabo-verdiano’. A ambigüidade dessa
situação é seu elemento mais importante, porque possibilita uma
manipulação entre dois extremos que nunca são absolutos, mas que
podem pesar mais ou menos conforme o contexto. Nenhuma definição
pode ser dada quanto à prevalência de um dos lados, pois a estima social
do emigrante se constrói exatamente sobre a possibilidade de circular por
esses dois extremos [...]. (BRAZ DIAS, 2000, p.79)
Desse ponto de vista, Benjamim torna-se um caboverdiano “americano” a ponto de
o próprio narrador se referir a ele como tal. Nessas circunstâncias se estabelece a
diferenciação do sujeito emigrado por parte dos outros entes sociais. Os emigrados são
reconhecidos dentro do romance pelas roupas que usam e as coisas que importam, mas
principalmente, pelo uso diferenciado do sistema linguístico, misturando termos em inglês
à língua crioula e à língua portuguesa formulando, assim, uma expressão híbrida e
circunstancial. A respeito desse dado estrutural é relevante o esclarecimento teórico de
Bakhtin: