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JOGOS DE ESPELHOS: A MULTIFACETADA “VERDADE” EM O VENDEDOR
DE PASSADOS
Naiara Mangino Cardoso (UFSCar)
RESUMO:
O presente trabalho tem por objeto de análise o romance
O vendedor de passados
(2004), do angolano José Eduardo Agualusa. Nosso objetivo é mostrar como que através da
reconstrução do passado, e da mudança de olhar – a perspectiva dos vencidos, até então
silenciada, ganha espaço – relativiza-se a “verdade” da versão oficial da História. Nesta obra,
encontramos uma reavaliação crítica deste firmado passado, deslegitimando, assim, as colunas
que alicerçavam a conhecida e difundida História, criando incertezas e inconstâncias com
relação ao que fora histórica-social-cultural-politicamente construído. As personagens do
romance giram em torno de mudanças, ou ao menos tentativas de renascer com um passado
diferente dentro de um “novo” país, na pós-colonialidade. Podemos dizer que
O vendedor de
passados
aborda questões como memória, identidade e História articulando-as a fim de mostrar
como o conceito de“verdade” é fluido e construído por aqueles que estão no poder.
Palavras-chave: Literatura Angolana; Pós-colonialismo; Memória.
A memória é o essencial, visto que a literatura está
feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações.
Jorge Luís Borges
A exemplo do que ocorre em
O vendedor de passados
, de 2004, iniciamos nossa
análise com uma epígrafe do escritor argentino Jorge Luís Borges, na qual temos
memória e sonho entrelaçando-se no fazer literário. Eis o que se dá neste romance do
angolano José Eduardo Agualusa composto por recordações, fatos oníricos e passados
inventados.
Ao começarmos a leitura, a epígrafe da obra já nos chama a atenção:
“se tivesse
de nascer outra vez escolheria algo totalmente diferente. Gostaria de ser norueguês.
Talvez persa. Uruguaio não, porque seria mudar de bairro”
(Jorge Luís Borges)
.
Novas (re)construções de velhas histórias. As personagens do romance giram em torno
de mudanças, ou ao menos tentativas de renascer com um passado diferente dentro de
um “novo” país (que agora respira depois de mais de 40 anos de guerra). Elas podem
escolher o que desejam ser. Tudo centralizado na figura de Félix Ventura, que vende à
nova burguesia angolana – sua principal clientela – “um bom passado, ancestrais