I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 146

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Individualidades marcadas pela fragmentação de identidades que vivenciam o
exílio de formas variadas (Fradique passa do auto-exílio por vontade própria para um
exílio forçado ao se aproximar de Ana Olímpia) em que os espaços são cambiantes, a
correspondência torna-se uma forma de alinhar e alinhavar os diversos espaços que
compõem a narrativa. No trânsito das cartas é possível observar a busca por um espaço
de equilíbrio, representado pela união dos protagonistas no Brasil, um espaço de tédio,
que é a Europa e, por fim, um espaço de tensão e diáspora, numa Angola que a principio
assusta Fradique mas que, no decorrer dos acontecimentos, “aclimata” o herói na busca
por um sentido, e um lugar, para vivenciar sua utopia (amor ideal e espaço em
equilíbrio). Essa conjunção só poderá ser encontrada no Brasil, lugar de aceitação e
aparente apagamento de todos os conflitos vivenciados por Fradique e Ana.
Dessa forma, as correspondências delineiam todos esses espaços em que os
heróis passam de exilados – Fradique em exilio geográfico e sentimental, Ana Olímpia,
no exílio em sua própria terra – a condição de cosmopolitas. A diferença está na
possibilidade de equilíbrio com o espaço e suas tensões. Para o cosmopolita, há quase
uma condição de turista, que entra em sintonia com a terra que, quase utópica, apresenta
o total equilíbrio para os personagens. Existe no Brasil, a partir do nascimento da filha
de Fradique, um processo de assimilação do outro que percorre todas as cartas de
Fradique e que, por isso, impossibilitam sua permanência em espaços de conflito como
a Europa e Angola e o aproximam de um espaço de pluralidade. Como observa Stuart
Hall:
As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre “a nação", sentidos
com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses
sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação,
memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que
dela são construídas. (2003, 51)
Gênero de contraponto, a correspondência mostra a transcendência entre o local
e o universal e explicita a construção de sentidos que perpassam o pessoal por meio de
uma visão particular e com único foco propiciada pela carta e, ao mesmo tempo, se
expande ao construir, via romance, um universo amplo e repleto de identidades diversas
que compõem as linhas narrativas de um gênero tão complexo e original que amarra a
trajetória de Fradique a pedaços de narrativas que constituem a totalidade de percepções
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