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Na década seguinte, sem que a produção poética angolana perdesse força ou
importância no contexto de luta pela libertação, surge uma prosa “revigorada no contato
com a sociedade em visível processo de transformação” (CHAVES, 1999, p. 47) que
redefine o mapa literário de Angola. Luandino Vieira está entre os principais
representantes dessa nova fase. De fato, para Rita Chaves (1999, p. 161), a consolidação
do romance angolano se daria pelas mãos desse escritor, que obtém sucesso ao
“conjugar a militância ostensiva, exigida pelo momento, com a ousadia de um projeto
literário fundado em tão agudas crises”.
Em suas primeiras obras,
A Cidade e a Infância
(1960) e
A Vida Verdadeira de
Domingos Xavier
(1974)
,
já se apontava para a valorização dos elementos tradicionais e
para o uso de elementos de uma nacionalidade incipiente a fim de dar forma à
perspectiva utópica da independência que perpassa as tessituras narrativas de seus
trabalhos. Entretanto, ainda de acordo com Rita Chaves, é com a publicação de
Luuanda
em 1974 que “a complexidade das relações sociais, culturais e políticas típicas dos
espaços marginais luandenses assume maior destaque, condicionando a escrita literária
– que se torna intensamente oralizada – e rompendo com um registro mais simplificado
da realidade” (CHAVES, 1999, p. 80).
A cidade de Luanda, espaço em que se desenrolam grande parte das narrativas
de Luandino, além de dar nome àquela que é considerada por muitos uma obra chave de
sua trajetória literária, é tomada pelo próprio escritor para compor seu novo nome e
marcar, dessa forma, uma identidade angolana. A respeito dessa importância dada ao
cenário luandense, Tania Macêdo (2004, pp. 5-6) afirma que, incitados pela necessidade
de criação de um modelo histórico e nacional-linguístico para a incipiente literatura que
ali tomava formas, os escritores angolanos elegem a cidade de Luanda como “emblema
da luta pela liberdade e dignidade do homem colonizado, tornando os musseques a base
sobre a qual as imagens de resistência e identidade nacional seriam geradas”.
2. Estória da Galinha e do Ovo
As três estórias que compõem
Luuanda
representam a tensão social por que
passava Angola no momento, ao mesmo tempo em que sugerem a necessidade de uma
mobilização popular para que se possam fazer entrever novas configurações sociais.
Nesse sentido, Via Lia Martin (2005, p. 18) afirma que “protagonizado por angolanos