I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 126

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O poema é estruturado semelhante a uma narrativa no que diz respeito ao
diálogo com a “Mãe”, símbolo mencionado, evocado e também explicado logo no início
da primeira estrofe. A mulher, representada pela mãe, simbolizaria “todas as mães
negras/cujos filhos partiram”. O eu-lírico afirma que a mãe lhe ensinou a esperar, pois
ela esperava nas horas difíceis. Tendo em vista que “mãe” neste poema é símbolo para
as mulheres negras, mas também para a África, pode-se dizer que o poeta faz um diálogo
com as mulheres africanas e, também, com as origens a partir do chamado a ela para
dizer o que sente, vê e espera (para o futuro). Observa-se ainda que há o desejo de
regresso às origens, a mensagem de adeus, traduzida também pelo título e pela situação
de partida, pontua também a ruptura com a terra natal.
O eu-lírico diz que a vida “matou” em sua vida a “mística esperança”. Pode-se
notar por meio da adjetivação de “esperança” que a espera é como uma crença ou
religião. As experiências ceifaram sua disposição para viver no aguardo. Nas duas
primeiras estrofes o tom melancólico introduz os próximos versos em que há grande
espaço para a recordação da vida penosa dos negros. A esperança é apresentada no
singular e no plural como que buscando apontar que o africano é a própria espera e/ou
esperança, ou seja, a crença fundamental.
A partir da quinta-estrofe, o eu-lírico apresenta a nação africana por meio da
descrição de quem são as pessoas do plural que anteriormente afirmou ser a esperança.
Estas pessoas são crianças que estão nuas em senzalas, garotos sem estudos que jogam
com bola de trapos, representando a inocência e a pobreza; contratados, ou seja, homens
que trabalham em cafezais por contrato, homens sem estudo, aqui marcados como
negros e ignorantes que “devem respeitar o homem branco/e temer o rico”, marcando a
oposição “negro”, “branco”, “respeitar” (remetendo à educação) e “ignorantes” e
pobreza
versus
riqueza.
Ao dizer: “somos os teus filhos/dos bairros de pretos/além aonde não chega a
luz elétrica”, faz um cruzamento entre a cor do africano e a cor do bairro pela ausência
de energia. Fala sobre os homens embriagados e abandonados num “ritmo de batuque de
morte” dando-nos a imagem de movimento e musicalidade, embora em circunstância
trágica. Demarca a situação miserável do africano também ao mencionar a fome, a sede,
a vergonha e o medo que sentem de se reconhecerem africanos.
A marcação do futuro aparece quando cita o “Amanhã”. Afirma-se que serão
feitos cânticos à liberdade quando for chegada a hora da abolição da escravatura,
trazendo à luz, mais uma vez a ideia da esperança, da musicalidade e dando enfoque à
liberdade.
Ao final do poema, o eu-lírico conclui o “diálogo” feito com a pátria e, se os
versos iniciais se faziam em tom melancólico, o encerramento se dá com palavras de
esperança, luta e recomeço:
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