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Com abordagem marcando a despedida embasada no mito do sebastianismo, o
título remete à embarcação que levou o rei D. Sebastião à batalha de Alcácer Quibir. Nesta
batalha, o exército português foi dizimado, o rei desapareceu, colocando fim à dinastia a
que pertencia, já que não havia herdeiros. Com o fim da dinastia, o reino português ficou
nas mãos do rei espanhol Filipe II, fazendo com que os portugueses perdessem sua
independência por sessenta anos. O inconformismo do povo português resultou na criação
da lenda de que o rei D. Sebastião estaria vivo e aguardando o momento certo de retornar
ao trono.
O eu-lírico narra a partida de D. Sebastião como um momento de tristeza, mas
também como uma ilustração de sua supremacia, pois afirma “E erguendo, como um nome,
alto o pendão/Do Império...”, isto é, ergue-se a bandeira portuguesa, para evidenciar o
poder da nação. A primeira estrofe traz luz também à imagem de mau agouro por meio da
adjetivação “sol aziago” e “choros de ânsia e de pressago”.
Afirma-se que não houve o retorno da nau, não se sabe o paradeiro de D.
Sebastião. Há o questionamento sobre o futuro que se mostra desconhecido (“sonho
escuro”) e que não tardará a chegar (“E breve”). Ao final do poema há o retrato do olhar do
poeta acerca da volta do rei. Enquanto o povo está desalentado (“a alma falta”), mais a
esperança do eu-lírico é extravasada pelo retorno de D. Sebastião, de maneira que ele pode
vislumbrar o vulto que regressa. Não se sabe o tempo exato, mas sabe-se que haverá o
momento de retorno que trará consigo a reconstrução do império português.
O poema coloca a esperança da reestruturação da identidade nacional por meio
do retorno do rei. O poeta exalta a nação portuguesa com a descrição de um fato
histórico de luta e perda, utilizando os versos como meio de encorajamento para a fé no
futuro.
Outro poema que evidencia a temática messiânica é “O Desejado”, que se
encontra na terceira parte da obra intitulada “O Encoberto”. Neste ponto de
Mensagem
o
mito do sebastianismo nos aparece de forma a remeter ao rei morto.
TERCEIRO
O DESEJADO