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Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
A Eucaristia Nova.
Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim em jeito tal
Que sua luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!
(PESSOA, 1979, p. 84)
O discurso é colocado em segunda pessoa de forma que o eu-lírico se apresenta
como que fazendo uma prece. Inicia com o clamor para o retorno do rei que apesar de
morto tem sua volta ansiada. Pede-se “[...] ergue-te do fundo de não seres / Para teu
novo fado!”, pontuando a ausência de “ser”, isto é, do existir ocasionada pela morte e,
ainda, a importância do regresso para que se cumpra uma nova missão.
É possível constatar que a volta do rei é relacionada com o Cristianismo e com
a vinda do Messias visto que o eu-lírico compara o rei com Galaaz, um dos cavaleiros da
Távola Redonda, um dos três que conseguiu alcançar o Santo Gral e que assim como ele
partia em busca da Eucaristía. D. Sebastião ainda é chamado de “Mestre da Paz” (como
Cristo é chamado) e invoca-se que sua luz revele o Santo Gral refletindo a relação divina
de D. Sebastião para com os portugueses. Nota-se que a volta do rei desaparecido é
atrelada ao messianismo não só pela equivalência com o cristianismo, isto é com a
religião, mas principalmente pela consequência da volta: a restauração da nação
portuguesa.
O título do poema “O Desejado” encerra a comparação da volta do rei com a
vinda do Messias. Há aqui o estreitamento da relação do rei com o divino e, portanto, do
aspecto mitológico que adquire o delinear da história portuguesa.
Mensagem
configura uma visão portuguesa acerca de sua história. Como diz
Francisco Maciel Silveira em prefácio à obra pessoana (1992): “Fernando Pessoa
compõe aqueles poemas em que se vai corporificando o SER da Pátria...” (p. 8). Sendo