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Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
(PESSOA, 1979, p. 42)
A voz lírica se apresenta em primeira pessoa e, num monólogo, são expostos os
sentimentos de quem fala como se tratasse de um discurso oral acerca dos atos heroicos
portugueses. Há a repetição da concepção de loucura com o emprego do adjetivo
“louco” no primeiro verso da primeira estrofe, do substantivo “loucura” na segunda
estrofe e por meio da ideia de “aventura” ilustrada no poema. Assim, reforça-se o olhar à
febre portuguesa pelas conquistas, colocando em vista a perspectiva de que sem
“loucura” não há vida, como se a ambição fosse o fundamento da existência humana.
Nota-se que neste anseio de transposição há a divisão do homem que foi, ou seja, que
morreu e do homem que virá “Por isso onde o areal está / Ficou meu ser que houve, não
o que há.”. Pontua-se, deste modo, o olhar para o futuro.
“A Última Nau”, poema que compõe a segunda parte da obra nomeada “Mar
Português”, traz a partida como temática, reforça o olhar do eu-lírico para a morte e para
o mistério. Fortalecendo os laços do português com o mito e com o messianismo, o
poeta recobra a crença na reviravolta da nação.
A ÚLTIMA NAU
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o
pendão
Do Império,