I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 116

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Matriarcado e Patriarcado. Aquele é o mundo do homem primitivo. Este,
o do civilizado. Aquele produziu uma cultura antropofágica, este uma
cultura messiânica. (ANDRADE, 1995, p. 101-102)
O conceito de messianismo dentro da religião israelita surgiu “interpretando
acontecimentos históricos [...] em seu primeiro significado, na luta do povo de Israel contra
seus vizinhos e adquirindo sua conotação definitiva quando do cativeiro da Babilônia”
(QUEIROZ, 1977, p. 25). Entretanto, por meio do desenvolvimento dos estudos históricos
e especificamente da História Comparada das religiões, o conceito teológico cedeu lugar ao
histórico, ou seja:
passa a designar uma categoria específica de líderes religiosos, com
caracteres bem definidos, que teriam existido lendária ou realmente no
passado, não em corrente religiosa determinada, mas em qualquer delas, e
procurando reconstruir-lhes a história em seus detalhes, diagnosticando a
que condições religioso-sociais se prendia seu aparecimento. (QUEIROZ,
1977, p. 4-5)
A existência da fé em um Messias em distintas religiões está embasada na espera
de um deus, mas acima disso, é interligada ao ideal do regresso para a ascensão do povo. O
messias é um ícone divino, que tem como missão liderar o povo ao caminho do destino
natural de desenrolar a história da nação e restaurar o país.
A crença messiânica presente em diversas culturas aparece em Portugal como um
dos principais alicerces do patriotismo. Segundo J. Lúcio de Azevedo em
A Evolução do
Sebastianismo
(1947), ela surge em período de aparente grandeza, quando há o declínio do
brilho de África e Índia para Portugal, afirma-se quando os portugueses perdem a
autonomia de sua nação e fortifica-se nos difíceis momentos de sujeição ao reino de
Castela; assim sendo, ocorre muito antes do famoso mito do sebastianismo, por já haver “a
esperança na vinda de um rei predestinado, e os anelos do que ele havia de realizar.”
(AZEVEDO, 1947, p. 8). O primeiro profeta a predizer a vinda de um líder que elevaria o
povo português foi Gonçalo Anes, o Bandarra, sapateiro de Trancoso que fazia suas
revelações por meio de trovas.
António Machado Pires em
D. Sebastião e O Encoberto
(1982) nos coloca que: “O
messianismo português (de que o sebastianismo é uma fase) originou-se não de uma
psicologia de raça, mas de condições sociais semelhantes às dos judeus.” (p. 17). O mito
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