I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 123

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esperança e orgulho de sua identidade nacional entre aqueles que foram violentados
socialmente.
A literatura africana de língua portuguesa, dentro do contexto do messianismo,
é um canal com o estrangeiro, já que muitos africanos não sabiam escrever e ler na
língua do colonizador português, mas falavam em crioulo e outras línguas de tradição
africana, que não possuíam escrita. A poesia, costumeiramente utilizada como literatura
oral, torna-se chave de diálogo com o povo, considerando que muito do conhecimento
do povo africano sobre a língua portuguesa era apenas oral. Portanto, a literatura é canal
com o exterior e o interior do colonizado, permitindo a promoção de uma voz ativa que
reafirme a cultura africana para os africanos e para os estrangeiros, articulando de
maneira a não inferiorizar as tradições negras, mas exaltá-las.
Aspirando estabelecer um paralelo com a poesia messiânica da
Mensagem
de
Fernando Pessoa, lança-se olhar para a obra
Sagrada Esperança
de António Agostinho
Neto (1922-1979), poeta angolano, engajado na luta pela independência e autonomia
política das nações colonizadas por Portugal. Na obra, que aqui será apontada, é
retratado o olhar do africano para a história nacional e principalmente para a necessidade
de libertação.
A perspectiva de um africano, que ultrapassa as fronteiras familiares em busca
de conhecimento, traz um olhar estrangeiro sobre sua cultura e/ou uma apurada visão
para aquilo que é o messianismo. Diante de todas as experiências violentas do africano,
o resgate de sua identidade passará pelo caminho do repúdio da cultura do colonizador e,
assim, pela busca de reconhecimento da cultura de seus antepassados. Tais
comportamentos correspondem à filosofia rastafariana africana.
O longo período do domínio estrangeiro, truncando o processo próprio ou
espontâneo das nações africanas, compeliu-as à amnésia conjunta de suas
tradições autóctones o que acabou por gerar, na resistência, o reverso, isto
é, a busca, o resgate de uma memória coletiva, a partir de dominadores
comuns que levassem ao próprio pessoal ou nacional. (SANTILLI, 1985,
p. 65)
O misticismo afro adere uma nova forma na poesia de Agostinho: está atrelado
à condição de libertação de Portugal e à confiança no futuro de progresso, sem a
condução de uma nação opressora. Seus poemas reverenciam a negritude e a África
como um todo. No título da obra
Sagrada Esperança
e em cada página está presente a
crença na reviravolta do negro sobre os males experimentados, como proposto na
filosofia rastafariana e almejado ao manter-se a fé messiânica.
Para melhor observar tais apontamentos, seguiremos com algumas leituras
analíticas de poemas da obra como “Adeus à hora da largada”:
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