I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 122

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assim, o encontro com o messianismo em suas poesias torna-se imprescindível, pois a
história portuguesa é enraizada no mito, por isso, para se revisitar a constituição
identitária e para se remontar o quebra-cabeça do perfil da nação é preciso passar pela
pesquisa mitológica.
III.
A espera do mito:
Como para os portugueses, a crença messiânica para os africanos está embasada
na exaltação da tradição afro, ocasionada por meio do (re) encontro com as suas raízes.
É consabido que a cultura africana foi rechaçada ao longo de muitos anos de diversas
formas: seja dentro de suas nações ao serem colonizados, escravizados e ensinados
novos valores culturais, seja por meio do tráfico negreiro, que retirou muitos africanos
de suas terras natais. Portanto, o regresso messiânico na cultura africana seria para
aqueles que foram retirados de suas origens (fisicamente ou com a retaliação de suas
tradições) e não com o retorno de um Messias; já o Messias seria aquele que
possibilitaria tal migração.
Na cultura africana, o movimento Rastafari pode ser considerado como um
promotor da crença messiânica. Seu surgimento, ocorrido em 1930, coincide com a
coroação do rei da Etiópia Hailê Selassiê I (1892 – 1975), o primeiro rei negro na
África. Hailê Selassiê, que posteriormente seria chamado Ras Tafari, é considerado pelo
movimento religioso como “o símbolo do Deus encarnado”. A origem do Rastafari está
ligada ao ativista jamaicano Marcus M. Garvey (1887 - 1940), que defendia o regresso
de todos os africanos a África e organizou por meio da Associação Nacional para o
Progresso Negro, programas de migração em massas negociados com governos
africanos.
Por meio do pensamento de Garvey de que a volta dos que foram retirados do
continente africano ocorreria apenas quando um rei negro fosse coroado, gerou-se a
crença dos integrantes do movimento Rastafari de que Hailê Selassiê seria seu Messias.
Entretanto, o ativista jamaicano deixa de ser o propagador da profecia e da gênese do
movimento ao posicionar-se contra o rei da Etiópia, alegando que os negros eram
maltratados em seu país e também por defender uma solução prática de regresso, não
uma salvação miraculosa do seu Messias, como acreditavam alguns rastafari.
A partir da ilustração do messianismo no movimento Rastafari, compreende-se
que a esperança no regresso às origens ocasionaria o sentimento de expectativa num
futuro promissor e o estímulo à busca pela liberdade nos países colonizados e àqueles
que foram retirados de seus países de origem, além da emancipação do negro na
sociedade como um todo. É importante ressaltar que o conceito messiânico para os
africanos é fundamentalmente libertador, partindo do pressuposto que visa promover a
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