A estrutura do poema é constituída por contradições, a ideia presente no
poema é a “criação” diante da impossibilidade do “criar”, ou seja, é o ato de criar
forças mesmo com fraquezas. A contradição é reforçada não só pela temática, mas
ainda na forma com o emprego recorrente de “olhos secos” e “choro”, “lágrima”,
“suor”, ou seja, seco e molhado e, também em amor e ódio.
O início do poema introduz a origem do ato de criar. Fala de espírito,
músculo, nervo e homem como forma de dar luz à origem das matérias e, portanto, à
gênese da criação. Na primeira estrofe, já se emprega “criar com os olhos secos”,
reforçando o contexto de coragem e de força diante das dificuldades e, assim, a
esperança aparece configurada no “criar com olhos secos”, isto é, sem lágrimas,
portanto sem tristeza.
Na segunda estrofe, emprega-se o contraditório de maneira efetiva quando
se coloca a criação diante de situações negativas, como o mau uso da floresta, a força
do chicote, o perfume dos troncos cortados, ou seja, árvores que foram violentadas.
Assim, é preciso criar, ainda que em momentos dignos de tristeza e lágrimas, com os
olhos secos. O pensamento contraditório segue nas demais estrofes. Os elementos
que se opõem, reafirmam a esperança sustentada nos momentos trágicos, os quais
seriam dignos de tristeza e desânimo, apresentando tanto o conceito de manter-se
forte diante das adversidades, quanto o enlace do “fazer poético” com a luta. Assim,
confrontando-se, soma-se por reacender a esperança com a ideia de mística.
O título encerra a ideia de movimento e ação para algo novo e, ainda, ação
para a restauração da fé. Além disso, a ideia de “Criar” remete ao trabalho do poeta
diante da luta pelo encontro com a identidade. Destaca-se neste poema a necessidade
de ações que vão contra a correnteza para a sustentação da mística esperança.
Agostinho Neto ilustra em “Criar” e nos demais poemas da obra, não apenas
a espera, mas a busca incessante pela liberdade messiânica, que não está
fundamentada apenas em código civil, mas na afirmação e reconhecimento da
identidade africana, assim sendo impossível o desligamento das crenças e das
histórias mitológicas tradicionais.
IV.
O cruzamento das poesias:
Elemento constituinte do processo identitário, o messianismo funciona
como articulação para refletir a história e buscar a construção de uma nacionalidade
independente.
A comparação trazida neste texto visa especular a temática do messianismo
abordada pelos poetas estudados repensando, sobretudo, o relacionamento
colonizador e colonizado: de que forma concordam e discordam? Qual efeito do
primeiro sob o segundo?