I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 135

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que, ao escrever em seu caderno escolar a frase “Angola é dos Angolanos”, revela o tema para
que convergem todas as estórias de
Vidas Novas
(1976).
Palavras-chave: Universo infantil; Libertação; Perspectiva utópica.
1. Introdução
Sabe-se hoje que o surgimento das literaturas de língua portuguesa na África é
resultado de um processo de conscientização que se deu conforme o grau de
desenvolvimento cultural das ex-colônias e tomou formas cada vez mais nítidas com o
surgimento de uma imprensa de caráter contestador (FONSECA e MOREIRA, 2007).
Para Rita Chaves, em seu livro
A formação do romance angolano
(1999), a história da
construção do estado angolano e da consolidação de uma literatura nacional não poderia
ter tomado outros rumos. Marcada pelo signo da crise, pela imagem da fratura, sendo a
nação constituída por um conjunto de grupos étnicos histórica e culturalmente
diferenciados que precisaram unificar suas vozes a fim de calar a voz do colonialismo, a
literatura angolana surge, nesse contexto, ao mesmo tempo como necessidade estética e
arma de combate para a afirmação de uma identidade nacional.
No final do século XIX e início do século XX, surgem as primeiras
manifestações literárias advindas da consolidação da imprensa angolana: uma
considerável produção de folhetins, crônicas e poemas. Na década de 1940, a Casa dos
Estudantes do Império (CEI), espaço de discussão para estudantes africanos em
Portugal – em contato permanente com as mais variadas propostas e correntes artísticas,
como o movimento da Negritude e as correntes neo-realistas da literatura e do cinema –
passa a abrigar discussões de projetos para a libertação das colônias portuguesas das
amarras coloniais. O movimento dos “Novos Intelectuais de Angola”, projeto artístico
que tem como norte a invenção e a resistência, marcaria, através da valorização e do
apreço pela cultura nacional, o início de um embate com o poder colonial, estando seus
participantes imbuídos com o que Rita Chaves (1999, p. 49) chamaria de uma “vontade
apaixonada de fazer, com armas e letras, a história do país”.
A produção poética angolana assumiria então, de acordo com Inocência Mata
(2001), uma “coletivização da voz”, já que através dela se redescobrem as origens, as
tradições e os mitos angolanos – como alude o próprio mote do movimento “Vamos
descobrir Angola!” – através de uma intencionalidade artística de caráter didático que
busca concretizar o sonho da independência através da estabilização de uma consciência
nacional.
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