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Na nona estrofe a imagem do povo africano torna-se clara. A voz poética fala
de todos os lugares onde a alma negra habitou e ainda existe: senzalas, casas, periferias
de cidades, nas áreas escondidas de casas ricas e no além-fronteiras de África. Marca
neste ponto a marginalização que o negro sofreu e ainda sofre.
Na décima e última estrofe encerra-se com a designação do desejo com sua
inicial em maiúscula, retomando o sentimento coletivo, quando o próprio eu-lírico
afirma: “inspirando as consciências desesperadas”. Coloca-se o sentimento como o que
traz a esperança para o coletivo africano. O poema traz, por meio da repetição de coisas
que conjugam passado e presente, a esperança diante das dificuldades, pois compõe-se
de forma a colocar que ainda não chegou o que se deseja, assim, ainda se está esperando
pelo desejo que aqui é visto como a busca da liberdade. O título constitui a nomeação do
que se lastima no poema: o ainda estar em situação de espera por algo novo, pela
conquista da libertação, pelo fim dos sofrimentos vividos em África.
O outro poema de Agostinho selecionado para esta reflexão é “Criar”, poema
rico em repetições (que formam certa musicalidade), símbolos e aspirações, como se o
poeta fizesse um mantra ou uma prece ao leitor.
CRIAR
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impudica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória