I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 139

138
simbologia associada à renovação, ao (re)nascer de um novo mundo, como podemos
comprovar no parágrafo final da estória:
De ovo na mão, Bina sorria. O vento veio devagar e, cheio de
cuidados e amizade, soprou-lhe o vestido gasto contra o corpo novo.
Mergulhando no mar, o sol punha pequenas escamas vermelhas lá
embaixo nas ondas mansas da Baía. Diante de toda a gente e nos olhos
admirados e monandengues de miúdo Xico, a barriga redonda e rija de
nga Bina, debaixo do vestido, parecia era um ovo grande, grande...
(VIEIRA, 1990, p. 123).
O corpo novo de Bina e a barriga que aos olhos de Xico parece um grande ovo
são simbólicos dessa renovação de Angola que o projeto estético-ideológico de
Luandino Vieira ambiciona através do entrave de um embate entre o povo e toda uma
estrutura colonial pela marcação da diferença – principalmente no que diz respeito à
linguagem.
3. Zito Makoa, da 4ª classe
Semelhante à “Estória da Galinha e do Ovo”, “Zito Makoa, da 4ª classe”
encerra o livro
Vidas Novas
(1976), composto por um total de oito estórias cuja temática
não se afasta daquela vista em
Luuanda
, já que também seus personagens tornam-se
cada vez mais politicamente conscientes desde “
Diná
”, sua primeira estória, até esta em
que agora nos detemos. Assim como em
Luuanda
,
Vidas Novas
se encerra com uma
narrativa em que se apresentam personagens infantis que são capazes de compreender
lucidamente os anseios e necessidades de sua nação. Tendo neles também projetada a
perspectiva do novo, do renascer de uma nação em conflito, Zeca e Zito são amigos
inseparáveis de infância. Símbolos da união entre brancos e negros vê-se neles a recusa
da visão de uma sociedade segregatória e repressiva. Imbuídos de valores como
solidariedade e companheirismo, tomam juntos consciência da necessidade de luta por
uma nação livre.
O espaço narrativo dessa estória é o ambiente escolar. Um lugar de repressão,
em que se suplantam as culturas e línguas locais por uma educação formal colonial
homogeneizante e cujas figuras de autoridade como o professor e o diretor remetem à
autoridade do poder colonial, principalmente com relação à violência em sua forma
física e moral. Na verdade, para Lourenço Joaquim da Costa Rosário (1989, p. 43), é
1...,129,130,131,132,133,134,135,136,137,138 140,141,142,143,144,145,146,147,148,149,...196
Powered by FlippingBook