I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 133

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Há que se pontuar que ambos os países partem da necessidade de uma
reviravolta para o desenvolvimento de uma fé messiânica, entretanto, o estágio de
ausência de liberdade administrativa dá-se de maneiras distintas. Para o colonizador
a ausência da autonomia ocorre devido à perda do rei – primeiramente com o
desaparecimento de D. Sebastião, depois com a morte de D. Henrique que o sucedeu
e era o último filho de D. Manuel. Já o colonizado constrói séculos de sua história
sob o domínio violento de uma nação exploradora e, no caso aqui apontado, sob a
atadura de Portugal, tornando, portanto, a luta pela independência em uma
redescoberta das tradições, na reafirmação no espaço e na sociedade como um todo.
O messianismo retratado nas poesias de Fernando Pessoa e Agostinho Neto
pode ser traduzido como a voz portuguesa e africana, ou ainda como um recurso de
apontamento e chamamento a olhar para a história do povo. Fernando Pessoa refaz o
caminho de Camões ao abordar a história portuguesa, mas rompe com seu antecessor
ao construir uma epopeia moderna. Agostinho, que não possui antecessor, utiliza o
povo como espelho (ou guia) e constrói um cânone na literatura africana de língua
portuguesa ao discorrer sobre a história dos colonizados por Portugal e ao fazer a
história de luta pela libertação.
Realizar análise comparativa entre os poetas leva-nos a um olhar atencioso
às produções literárias sobre as histórias nacionais e, por consequência, guia-nos a
novos olhares a tais histórias. À literatura não cabe o redefinir os fatos, mas pode
refazer a maneira como os interpretamos e contribuir para a noção crítica dos
mesmos. Assim, estabelecer confrontos entre discursos, artísticos (no nosso caso o
literário), políticos, etc. revela um meio de repensar o social.
Referências:
ANDRADE, Oswald.
A Utopia Antropofágica
. 2. ed. São Paulo: Globo, 1995.
AZEVEDO, J. Lúcio de.
A Evolução do Sebastianismo
. 2. ed. Lisboa: Livraria
Clássica Editora, 1947.
BERARDINELLI, Cleonice.
Fernando Pessoa: Outra vez te revejo...
. Rio de
Janeiro: Lacerda Editores, 2004.
COELHO, Jacinto do Prado.
Camões e Pessoa, Poetas da Utopia.
Portugal:
Publicações Europa-América, 1983.
Infopédia: Enciclopédia e Dicionários Porto Editora. Disponível em:
Acesso em: 19 de março de 2013.
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