I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 151

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Um país querendo uma outra história, buscando apagar/esquecer as antigas
memórias. Este é o contexto no qual se passa este romance. Um “país de fantasia”, no
qual o próprio presidente não é o que parece ser. É um sósia do verdadeiro; uma réplica.
“Temos então um presidente de fantasia”, disse, enxugando as
lágrimas com um lenço. “Isso eu já suspeitava. Temos um governo de
fantasia. Um sistema judicial de fantasia. Temos, em resumo, um país
de fantasia. [...].” (
V.P.
, 2007, p.172)
O que há nos fatos que nos são narrados é, resumidamente, a busca por um novo
passado na tentativa de apagar o que realmente se passou, de esquecer a presença do
Outro (o colonizador); no entanto, o maior desafio é justamente se (re)construir dentro
da dialética do eu/(O)outro – sendo este (O)outro não apenas o colono, mas também os
o
utros deste mundo globalizado; a presença do colonizador não se perde, não se torna
uma ausência por completo.
O processo que decorre da descolonização ao pós-colonial exige,
assim, um novo método de abordagem e diálogo com o mundo global,
porque nessa nova conjuntura impõe-se a “lógica do gesto de abrir
novos espaços” (Appiah, 1996, p.63). (MATA, 2003, p.46)
O livro
O vendedor de passados
aborda justamente questões como memória,
identidade e História articulando-as a fim de mostrar como o conceito de “verdade” é
fluido e construído por aqueles que estão no poder.
Inserido no contexto global e movido ainda pela questão fundamental
de sua escrita – a identidade –, [Agualusa] busca, no romance, um
espaço de re-elaboração de um discurso nacional que dê conta da
pluralidade e ambivalência da sociedade angolana atual. (SILVA,
2008, p.54)
Com relação às questões identitárias, Agualusa nos coloca frente à seguinte
pergunta: é possível, a partir de agora, pensar na existência de um angolano típico?
Este questionamento é posto em cena, primeiramente, com a própria personagem
de Félix, um angolano albino. Ele fora abandonado à porta da casa de um alfarrabista, o
mulato Fausto Bendito Ventura, que o adotou. Chegou numa caixa onde se encontravam
vários exemplares de
A Relíquia
– romance do escritor português Eça de Queirós, que
trata,
grosso modo
, de uma mentira que se mascara como algo valioso, capaz de enganar
e se passar como verdade. Como destaca Kellen Dias de Barros (2009), Félix “chegava
como um tesouro, como algo de imenso valor, mas que poderia revelar-se uma farsa ao
final, como acontece no romance de Eça”.
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