I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 159

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A memória encontra-se ligada à identidade. Recuperar a História é uma forma de
recuperar quem realmente fomos e somos; é uma maneira de dar coerência ao seu
pertencimento dentro de um grupo. A História nunca será apagada: “O anjo da história
[como ressalta Benjamin ao citar a obra de Klee,
AngelusNovus
] deve ter esse aspecto.
Seu rosto está dirigido para o passado” (BENJAMIN, 1994, p.226).
Como está escrito na canção que aparece ao início do romance,
Nada passa, nada expira
O passado é
um rio que dorme
e a memória uma mentira
multiforme. (
V.P.
, 2007, p.12)
A fragmentação da verdade. A multifacetada verdade. A maleabilidade da
verdade. Estes são alguns dos pontos que são abordados no romance.
A mentira [...] está por toda a parte.
Também a verdade costuma ser ambígua. Se fosse exata não seria
humana. [...] Dê-me licença para citar Montaigne – nada parece
verdadeiro que não possa parecer falso. (
V.P.
, 2007, pp.144-145)
Ao reavaliar os fatos, o que fora suprimido, o que ficara latente, se manifesta, e
contribui para desconstruir a identidade enquanto única e homogênea, a História
enquanto imparcial e imutável, e a memória enquanto certa e inquestionável. A verdade
não mais una, mas sim aSverdadeS, inúmeras e nem por isso menos verdadeiras.
Referências Bibliográficas:
AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. Lisboa, Portugal: Booket, 2007.
BARROS, Kellen Dias de. Urdidura liquefeita: um olhar sobre
O vendedor de passados
.
Cadernos do CNLF, v.XII, n.15. (XII Congresso Nacional de Linguística e
Filologia).Rio de Janeiro, CiFEFiL, 2009.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
FANON, Frantz. Os Condenados da Terra[
Trad
. José Laurênio de Melo]. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
HUTCHEON, Linda. Poética do Pós-Modernismo. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
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