I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 168

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promoveram o silenciamento como regra, impuseram e se tornaram coniventes com o
maior distanciamento entre brancos e negros em nosso país.
Carta de alforria: uma utopia à brasileira
Contrariamente à promessa de uma unidade nacional incolor, no
espaço de um século, a dita política da “democracia racial” produziu
“dois Brasis” que não se encontram: um branco e outro negro,
enveredados em duas lógicas contrárias e fortemente racializadas de
desenvolvimento antagônico (MOORE, 2010, p. 24).
O período que serviu para delimitar a escravidão no Brasil não deve ser
compreendido através da chegada dos negros oriundos da África do Sul em terras
brasileiras e a promulgação da Lei Áurea (1888) que, nos bancos escolares, fomos
ensinados a reverenciar de forma inquestionável. Essa cronologia, em nossa opinião,
apenas serviu para acalmar a fuga em massa dos negros para os diversos quilombos
espalhados pelo Brasil e, acima de tudo, como estratégia política para os grandes
senhores e donos de fazendas e engenhos, que precisavam ganhar tempo para inventar
novas formas de escravização urbana. Não desmerecendo as lutas solitárias, porém
significativas, dos grandes abolicionistas tais como Joaquim Nabuco, Luiz Gonzaga
Gama, Castro Alves, Visconde do Rio Branco e etc., que estavam comprometidos de
verdade com o fim do regime escravista, para a grande maioria, composta pela alta
sociedade e o clero, a liberdade dos escravos nada mais significava que a busca urgente
de novos mecanismos de exploração humana. E, apesar da euforia passageira que foi o
ato de liberdade, não foi preciso muito tempo para que os homens brancos
conseguissem, juridicamente, articular e manter a submissão dos negros aliada às cartas
de alforria, na maioria das vezes, comprada com o suor e o trabalho árduo do próprio
escravo.
Por isso, entendemos a pertinência das colocações feitas por Vera Telles:
Para caracterizar essa complexa e ambígua cultura política que
perpassa a sociedade brasileira, estravando-se com muita força, nessa
“democracia de eleitores” assim, descreve: é uma sociedade em que a
descoberta da lei e dos direitos convive com uma incivilidade
cotidiana feita de violência, preconceitos e discriminações; em que
existe uma espantosa confusão entre direitos e privilégios; em que a
defesa de interesses se faz em um terreno muito ambíguo que desfaz
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