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como um mal necessário, serviu para a construção da ilha da segregação racial e como
mecanismo de distanciamento entre brancos e negros no Brasil.
Conclusão
Dar relevo à historicidade significa chamar a atenção para o fato de os
tipos não serem definidos de uma vez para sempre. Eles não são
apenas agregados de propriedades sincrônicas fixas, mas comportam
contínuas transformações, são maleáveis e plásticos, precisamente
porque as atividades humanas são dinâmicas, e estão em contínua
mutação (FARACO, 2009, p. 127).
Ao escolhermos como objetivo desse trabalho entender, parcialmente, os
motivos que levaram os homens brancos à construção de uma ilha para distanciar os
negros do convívio em nossa sociedade, sabíamos que, independente dos números de
páginas que pudessem conter esse artigo, o trabalho jamais encontraria termos que
justificassem sua conclusão. Não nos valemos dessa pretensão, uma vez que, por mais
referenciais teóricos que pudéssemos ter acesso, eles ainda continuariam insuficientes
para objetivar temáticas que infinitamente seguem seus cursos através das reticências
que a língua nos ensinou a interpretar. Buscamos, na verdade, ao longo desse trabalho,
pontos de reflexão e um chamamento para que todos, desarmados de qualquer tipo de
pré-conceitos, possam desconstruir a imensa ilha da desumanidade entre os homens. E,
que possamos de maneira coletiva ou isolada, lutar contra essas repetições seculares que
insistem em demarcar territórios diferentes para pessoas iguais.
Como tão bem defendido por Bakhtin, urge que sejamos sujeitos responsáveis
tanto pelo curso de nossas histórias, mas acima de tudo, pela história do outro. E que
essa cumplicidade, tão ausente no período escravocrata no Brasil, sirva para novas
formas de descaracterização do egoísmo e da prepotência de uns sobre a fragilidade de
tantos outros. É esse olhar atento que nos leva a questionar além daquilo que a história
nos oferece como pronto e que nos faz compreender o verdadeiro significado da palavra
alteridade. Portanto, acreditamos que o propósito desse artigo tenha sido contemplado,
uma vez que, ao procurar enfatizar a necessidade desse olhar exotópico, nos faz
compreender o nosso papel na sociedade. Diante do exposto e, fazendo uso das palavras
de Bakhtin, o mais importante é que “jamais esqueçamos que, na arquitetônica que a
vida simboliza, nunca existirá a figura do arquiteto, pois com toda propriedade ressalta
o autor, somos todos apenas inquilinos de um mesmo edifício”.