I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 175

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ARMÉNIO VIEIRA E JOÃO CABRAL DE MELO NETO:
DIÁLOGOS POÉTICOS
Priscila Genelhú Soares
(Universidade de São Paulo – FAPESP)
Orientadora: Profª Drª Érica Antunes Pereira
RESUMO:
As relações entre Cabo Verde e Brasil tornam-se cada vez mais intensas; do âmbito
das relações econômicas ao intercâmbio cultural, evidencia-se o diálogo constante e crescente.
Essas relações alcançam, também, a literatura, nosso trabalho investiga comparativamente as
obras poéticas de dois “Prêmios Camões”, o cabo-verdiano Arménio Vieira e o brasileiro João
Cabral de Melo Neto, percebendo como as relações e os intercâmbios se concretizam no cenário
literário, dando especial importância a aspectos de concepções poéticas.As relações existentes
entre a poesia dos dois autores são múltiplas e extensas, assumindo não só o caráter de contexto
de produção baseado nas semelhanças Cabo Verde - Brasil, mas também aspectos comuns da
temática e da abordagem própria dos dois autores. Como base para tais comparações, serão
utilizados os conceitos de dialogismo e interdiscursividade propostos por Mikhail Bakhtin, e
intertextualidade, por Julia Kristeva.
Palavras-chave: Poesia; Dialogismo; Literaturas de Língua Portuguesa.
1. Introdução
Muito anteriores a Arménio Vieira e João Cabral de Melo Neto, autores que
serão objeto de estudo neste artigo, as relações entre Cabo Verde e Brasil dizem respeito
a questões intensas de identidade. Por muito tempo colônias de metrópole comum,
Portugal, os dois países tiveram, desde seus respectivos “descobrimentos”, histórias
desenvolvidas de forma bastante semelhante e sempre articuladas, como bem ressalta o
historiador e embaixador da República de Cabo Verde no Brasil, Daniel António
Pereira:
Simbolicamente, diria que as relações entre Cabo Verde e Brasil
antes de acontecerem, já existiam. E depois de acontecerem se
densificaram ao longo dos séculos, marcando indelevelmente os
povos dos dois lados do Oceano Atlântico
(PEREIRA, 2011, p. 28).
O presente trabalho atua enquanto uma interpretação dos intercâmbios culturais
entre os dois países, principalmente no que se refere a como todo o cenário histórico
compartilhado modificou as produções literárias de cada país. Para tal, a escolha de
João Cabral de Melo Neto e Arménio Vieira como representantes de literaturas
nacionais refere-se à importância assumida por ambos na construção destas. Segundo
afirma o importante linguista cabo-verdiano, Manuel Veiga, (1998, p. 172) ao refletir
sobre a literatura pós-claridosa em Cabo Verde, Arménio Vieira é “pedra fundamental
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