I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 165

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aprendizes, a busca por reflexões que venham a retificar o mito histórico que persiste
em cultuar zonas de silenciamento entre brancos e negros. Entendemos, acima de tudo,
que é chegado o momento de desconstruirmos essa imensa ilha que o homem branco
construiu para distanciar o negro da sociedade. Já diziam os sábios filósofos: “nenhum
homem deve ser considerado uma ilha”, e esse artigo tem como objetivo desconstruir,
ainda que de forma modesta, alguns mecanismos de segregações sociais que persiste em
povoa-las.
Assim, as sábias palavras do líder Mandela aliadas às reflexões presentes nos
próximos capítulos desse artigo, irão trazer contribuições importantes referentes às
construções contemporâneas que persistem em edificar moradas diferentes para pessoas
iguais.
O ódio pelo outro: a dor pela cor
“O pensamento humano não é de modo algum tão privado
quanto parece, e tudo que é preciso para ler a mente de outra
pessoa é a disposição de ler a sua própria” (MARXWELL,
2005, p. 6).
A submissão imposta aos negros no período escravocrata no Brasil deixou
rabiscado, nas páginas da história, a mais desumana convivência entre os homens. A
supremacia branca, o ódio, o desrespeito e a desumanidade formaram a arena onde
todos os crimes cometidos contra os negros foram permitidos e aplaudidos pelos
grandes senhores de engenho e pelo clero:
Os nossos irmãos negros da África, espoliados de sua liberdade,
arrancados e até torturados, em vez de encontrarem nos ministros da
igreja irmão solidários com sua causa, depararam como homens de
religião, interessados em convencê-los da bondade de tamanha
injustiça e dispostos a seduzi-los com o ópio dos sacramentos e da
oração, para conter o grito da imprecação e o gesto da revolta, abafado
por baixo de tanta dor e sofrimento (ARAÚJO, 1988, p. 7).
Entender esses discursos religiosos entre escravos, senhores e a própria igreja,
nos impulsiona a questionar sobre o verdadeiro significado da palavra “cristão”. Essas
inquietações são recorrentes quando nos propomos a descrever sobre os acontecimentos
que fizeram parte da história antes e depois da tão proclamada Abolição da Escravatura
em maio de 1888. Essas particularidades, tantas vezes ausentes nos livros didáticos, nos
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