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mecanismo desumano a figura do outro desaparecia e com ela sua identidade e seus
desejos e ansiedades. Sem sombras de dúvidas, essa foi a verdadeira história dos negros
escravos no Brasil; uma história onde o negro e seus descendes foram reduzidos a
coisas, e tais como objetos de uso constantes, foram relegados ao esquecimento social e
humano.
Esse cenário da escravidão no Brasil, como bem sinalizado por Oliveira (2006,
p. 46-47) serviu para novas reflexões sobre os verdadeiros papéis vivenciados pelos
colonizadores que, desconsiderando o negro como ator histórico, alimentava sobre si
uma falsa ideia de soberania:
Com o discurso de “superioridade”, os europeus apoiavam-se numa
falsa supremacia branca, desconhecendo o sentimento de revolta e
ódio disseminado por eles entre os africanos. Desta forma, a
desumanização absorve não só os oprimidos, mas os opressores
também, visto que estes, ao perderem sua humanização, agem como
se fosse um fuzil ou uma chibata ambulante.
O homem, interpelado como sujeito de sua própria história, se achou no direito
de menosprezar e separar o espaço social em raças, cores e oportunidades. E, ao negro,
quando nos propomos a observar, quase nada sobrou; a não ser aquilo que o enfraquece
e diante do qual ele não tem condições de mudar: a cor de sua pele. Por isso, é
importante refletir, segundo Chalhoub (2003, p. 82), sobre alternativas que para fugir
dessa visão estreita e monolítica da escravidão:
“(...) penso que toda concepção unitária que apresenta a escravidão
violenta e opressiva, ignorando a capacidade destes sujeitos de
reinventarem sua história, por meio de concepções próprias de si e do
seu cativeiro, deva ser rejeitada”.
O negro, pertencente a uma sociedade alheia a sua vontade, busca no dia a dia
uma nova perspectiva de relacionamento e convivência social possível, onde a
necessidade de uma supercompensação, distribuída em todos os níveis e hierarquias
estabelecidas, precisa provar a si e aos outros a sua visibilidade, mesmo que seja, nas
palavras de Franz Fanon (2008), a busca por uma “fraternidade áspera”.
Diante dessa interpretação podemos concluir a importância que o ser o humano
tem de ser visível e se tornar visível para o outro, mesmo que sua notabilidade não seja
positiva como eles gostariam que fosse. O pior e, o mais degradante quadro da
desigualdade racial observado na história do nosso país, foi justamente a aliança
desumana elaborada com o mesmo peso psicológico entre a invisibilidade e a
coisificação do negro. Essa fórmula prepotente elaborada para justificar a escravidão