I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 161

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“A ILHA DOS NEGROS CONSTRUÍDA PELOS BRANCOS”
“The Island For Blacks Built By White Men”
Olga Maria Lima Pereira – doutoranda – Universidade Católica de Pelotas – Pelotas/RS
Orientador Adail Sobral
RESUMO: O artigo tem como objetivo primeiro discorrer sobre a escravidão dos negros no
período do Brasil-Colônia e revelar alguns mecanismos que, ao longo dos séculos, foram sendo
edificados com propósito de promover o distanciamento entre os homens e, segundo, ancorados
em alguns referenciais que tratam sobre o conceito de alteridade, tecer algumas reflexões sobre
a importância de se colocar no lugar do outro e, através dessa cumplicidade de visão, entender
que suas dores e alegrias são compartilhadas e transformadas em um “nós”. Aprofundar o
conceito de alteridade é também exercitar o senso de responsabilidade pelo outro e entender
que nossas ações podem servir para elevá-lo como de forma mais intensa e perversa, ser a causa
de sua exclusão. Por último, o artigo irá explorar algumas abordagens sobre o discurso do
silenciamento da soberania branca que persiste em construir ilhas diferentes para pessoas
iguais.
Palavras-chave: Discriminação racial; Alteridade; Responsabilidade.
Introdução:
Quando contemplo no todo um homem situado fora e diante de mim,
nos horizontes concretos efetivamente vivenciáveis não coincidem.
Porque em qualquer situação ou proximidade que esse outro que
contemplo possa estar em relação a mim, sempre verei e saberei algo
que ele, de sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as parte de
seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar - a cabeça, o rosto, e sua
expressão- , o mundo atrás dele, toda uma série de objetos e relações
que, em função dessa ou daquela relação de reciprocidade entre nós,
são acessíveis a mim e inacessíveis a ele. Quando nos olhamos, dois
diferentes mundos se refletem na pupila de nossos olhos. Assumindo a
devida posição, é possível reduzir ao mínimo essa diferença de
horizontes, mas para eliminá-la inteiramente urge fundir-se em um
todo único e tornar-se uma só pessoa (BAKHTIN, 2009, p. 154).
Ao nos apropriarmos de algumas bibliografias que tratam sobre a trajetória
escravista no Brasil, podemos perceber os diversos entraves encontrados nas relações e
nas tentativas de aproximação entre brancos e negros. Acima de tudo, podemos afirmar
que tais confrontos serviram para marcar uma das mais desumanas histórias do homem
contra o seu próximo. Relatos de torturas, coações e humilhações, empobreceram a
descoberta de um país de grande importância econômica para a época, mas que foi,
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