I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 184

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CULTURA E UTOPIA EM ABDULAI SILA: UMA LEITURA DE ETERNA
PAIXÃO
Sebastião Marques Cardoso
(UERN)
RESUMO:
Neste artigo, analisaremos
Eterna Paixão
, romance de Abdulai Sila, com vistas no
contexto social e político das comunidades pós-coloniais lusófonas. Ao contrário daquilo que
poderíamos traçar como rota “natural” do processo de descolonização, tendo o pessimismo em
face da realidade e um reforço na busca das origens como símbolos prediletos de um modo pré-
colonial, Sila se lança na execução de um desejo utópico orientado e programado, ligado
sobremaneira à atividade econômica moderna e participativa, sem abandonar os princípios
morais e éticos da comunidade. Sua voz torna-se inusitada na medida em que se descola da
imagem elaborada do discurso pós-colonial. Essa trajetória
sui generis
consiste em abandonar o
discurso da violência sobre o Outro, buscando uma desreferencialização discursiva instituída na
diferença.
Palavras-chave: Estudos Pós-Coloniais; Literaturas de Língua Portuguesa; Guiné-
Bissau; Abdulai Sila.
Introdução
A luta democrática é, antes de mais, a luta pela construção de
alternativas democráticas.
Boaventura de Sousa Santos–
Para uma revolução democrática da
justiça
(2011).
Todas as formas de exploração são idênticas pois todas elas são
aplicadas a um mesmo “objeto”: o homem.
Franz Fanon–
Pele negra, máscaras brancas
(2008).
Mesmo tendo elaborado um outro romance antes—
A última tragédia
—,
Abdulai Sila publica, em 1994, pela Ku Si Mon, editora recém fundada no período em
Guiné-Bissau,
Eterna paixão
. A justificativa, segundo o próprio autor, era a de que o
livro “reflectia de certa forma aquela vivência do momento” (SILA, 2002, p. 9).
Considerado mais circunstancial, Sila preferiu publicar, então,
Eterna paixão
. Contudo,
passados mais de 17 anos, percebemos que tanto
A última tragédia
, quanto
Eterna
Paixão
, bem como o terceiro livro,
Mistida
, publicado em 1997, reportam, na verdade,
as contrariedades de uma mesma época: as décadas após a independência política do
país, sendo administrado pelas forças locais. Os três romances, publicados como trilogia
em 2002 pelo Centro Cultural Português (Praia-Mindelo), são, portanto, elaborações de
um escritor bissau-guineense que vivenciou o processo de descolonização do país,
mesmo que, em
A última tragédia
, lance olhares ao passado da colonização. É a partir
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