I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 193

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vivendo sozinho na África. Assim, ao passar por situações de desconfiança e
preconceitos, Dan viveu na América como um sujeito assombrado e desterritorializado.
Sua condição étnico-racial mostra o avesso da tolerância e da ideologia de bem-estar
social americana. Cenas típicas do cotidiano, como apanhar um táxi, por exemplo,
revelam, pela ótica do personagem, o quanto a sociedade americana está imersa em
tensões étnicorraciais seculares.
O deslocamento de Dan para a África figura uma tentativa de reterritorialização
de seu espaço identitário. Marca, nesse sentido, uma volta genésica. Entretanto, a África
encontrada por Dan não é a mesma África fabricada e imaginada pelo movimento
afroamericano no qual participava. Mark, seu colega, pregava uma África
absolutamente solidária e cheia de virtudes. Desiludido, Dan descreve a nova percepção
de África para o amigo:
Iria contar da África que estava descobrindo. Daquela com cara cruel,
que reprimia barbaramente; daquela com mãos sanguinárias, que
assassinava nas prisões; da outra de olhos vedados, perdida na
corrupção; e da outra ainda... (SILA, 2002, p. 241).
Duas visões sobre África correm em paralelo: a África dos sonhos, representada
por Mark, no contexto americano, e a África real, que tão sofrivelmente Dan
denunciava. Afastado do Ministério da Agricultura do país africano, o personagem
confirma todo o pessimismo em relação ao futuro do continente. Cremos que, se o livro
tivesse terminado assim, Sila teria confirmado a percepção pós-colonial sobre a África
como ambiente duramente castigado pela classe de dirigentes autóctones que substituiu
as funções da máquina colonialista, restando ao autor o lamento melancólico por uma
identidade perdida num tempo pré-colonial ou a incitação de um contragolpe sobre o
poder local, através, sobretudo, da violência armada. Mas, como veremos mais adiante,
não foi escolhida nenhuma dessas alternativas pelo escritor, embora ele tenha plena
consciência acerca desse cenário.
A solução encontrada por Sila fere o protocolo narrativo na medida em que põe
para baixo a frágil verossimilhança até então apoiada por uma atmosfera neorealista no
romance. A partir do capítulo 6, quando Dan se exila para uma comunidade no interior
do país, a narrativa perde o contato, ou deixa de contar ao leitor, a sequência de eventos
lógicos que sustenta a realização do projeto de Dan. Ou seja, o narrador não explica de
maneira convincente como Dan consegue o apoio total da população, como consegue
financiamento para compra de máquinas, insumos e materiais de construção, como
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