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Considerações finais
Em face do exposto, podemos concluir que o romance
Eterna paixão
, apesar de
indicar claramente alguns desequilíbrios na condução da narrativa, merece ser lembrado
como uma obra original e, possivelmente, um farol para guiar a sensibilidade da nova
geração de romancistas da África lusófona, particularmente, da Guiné-Bissau. Sila,
neste romance, sugere a fundação das seguintes linhas de criação da prosa romanesca
bissau-guineense: (i) um discurso inscrito na fronteira, que não se ajusta
contemporaneamente no estereótipo da representação afirmativa exógena da África e
nem na representação política da classe de dirigentes pós-coloniais; (ii) uma perspectiva
estética neorealista, onde a fantasia utópica e a imaginação estética brotam
inexoravelmente das experiências da vida social e cultural e (iii) uma crença no sentido
ético e moral da sociedade como valores a ser recuperados pela literatura. Em síntese,
vemos em Sila a corporificação do sujeito “acional” buscado por Fanon (2008), daquele
sujeito que, na sua esfera de influência, mantém o respeito aos valores fundamentais à
condição humana.
Referências:
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Trad. Myriam Ávila; Eliana Lourenço de Lima Reis;
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Margens da cultura
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