A partir de uma primeira leitura, nota-se evidências sobre a referência dos
poemas de Borges ao capítulo 13 da obra sarmientina, intitulada, “Barranca Yaco”, ou
seja, os poemas reconstroem, cada qual a sua maneira, o momento que antecede e o
percurso que conduz Facundo ao momento infortúnio de seu assassinato, cometido por
Santos Pérez a mando de Rosas.
Desta forma, os poemas evidenciam a atração do poeta por figuras
representativas da história argentina unida à sua preocupação por temas que se referem
à morte e ao destino.
Em “El general Quiroga va en coche al muere”, o poeta apresenta sete
estrofes; a primeira com três versos e as outras seis, com quatro, todos distribuídos de
forma livre, não rimados. Na constituição do poema, Borges utiliza-se de linguagem
poética, lirismo e musicalidade evidentes, tal qual a forma subentende.
Através do poema, Borges pretende recriar poeticamente não apenas o
momento histórico do personagem através da evocação do assassinato de Facundo
Quiroga em Barranca Yaco, província de Córdoba, em 1835, mas também imortalizar a
forte personalidade do general, marcada por sua arrogância e pela confiança que trazia
em si mesmo.
Os três primeiros versos do poema são dedicados à descrição do ambiente
em que se desenvolverá o fato, seguido pela descrição da comitiva. Neles, Borges cria
uma atmosfera lúgubre, mediante a uma série de recursos expressivos que anunciam a
iminência da morte.
“El madrejón desnudo ya sin una sed de agua
y una luna perdida en el frío de alba
y el campo muerto de hambre, pobre como una araña
El coche se hamacaba rezongando la altura;
un galerón enfático, enorme, funerario.
Cuatro tapaos con pinta de muerte en la negrura
tironeaban seis miedos y un valor desvelado.
Junto a los postillones jineteaba un moreno.
Ir en coche a la muerte ¡qué cosa más oronda!
El general Quiroga quiso entrar en la sombra
llevando seis o siete degollados de escolta.”
(BORGES: 1994, vol. 1. p. 61)